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Motoqueiros são 50% das vítimas de acidentes no HC
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um levantamento do Hospital das Clínicas de São Paulo
mostra que metade das vítimas
de acidentes de trânsito atendidas em sua unidade de traumas
nos últimos três meses pilotava
ou estava na garupa de uma
motocicleta -tipo de veículo
que representa somente 12%
da frota da capital paulista.
De 300 pessoas com lesões
em acidentes viários socorridas
no pronto-socorro do Instituto
de Ortopedia e Traumatologia,
148 eram motoqueiros (mais de
três a cada dois dias).
A estatística inédita não foi
compilada por acaso justamente neste mês. O objetivo declarado pelo hospital é tentar discutir os impactos que a regulamentação dos mototáxis -sancionada ontem pelo presidente
Lula (PT) e admitida pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM)-
poderá ter no sistema de saúde.
A fisiatra Júlia Greve, responsável pelo levantamento,
diz que os custos com a internação de motoqueiros acidentados no instituto de ortopedia
do HC já passam de R$ 100 milhões por ano -verba suficiente para construir e equipar dois
hospitais públicos do porte que
a prefeitura planeja para a Brasilândia, zona norte (75 leitos).
Ela afirma que a atividade
dos mototáxis elevará de forma
inevitável a quantidade de vítimas, que não haverá recursos
para suportar esses gastos e
que todos os pacientes da rede
pública serão prejudicados.
"O sistema de saúde já está
estrangulado. O motoqueiro
que chegar em estado grave vai
roubar a vaga de alguém que estiver menos grave. Uma pessoa
com infarto, por exemplo, pode
ser mais mal atendida, pode ficar mais tempo na fila ou até
deixar de ser atendida", diz a
médica. "A despesa com um só
motoqueiro acidentado pode
ser suficiente para tratar mais
de mil casos de gripe suína."
A estimativa é que, nos primeiros seis meses de internação, um motociclista custe R$
300 mil ao hospital -entre gastos com cirurgia, enfermaria e
medicamentos, por exemplo.
Júlia Greve diz não haver levantamentos anteriores no instituto com os mesmos critérios,
mas que, no começo da década,
a estimativa era que os motociclistas representavam 25% dos
atendimentos hospitalares.
No ano passado, as mortes no
trânsito na cidade de São Paulo
caíram 6,6% -queda que foi
atribuída por técnicos principalmente à lei seca. O número
de motociclistas mortos, entretanto, subiu 2,6% -atingindo
478 casos, que representam um
terço do total de vítimas.
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