São Paulo, quinta-feira, 30 de julho de 2009

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Motoqueiros são 50% das vítimas de acidentes no HC

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um levantamento do Hospital das Clínicas de São Paulo mostra que metade das vítimas de acidentes de trânsito atendidas em sua unidade de traumas nos últimos três meses pilotava ou estava na garupa de uma motocicleta -tipo de veículo que representa somente 12% da frota da capital paulista.
De 300 pessoas com lesões em acidentes viários socorridas no pronto-socorro do Instituto de Ortopedia e Traumatologia, 148 eram motoqueiros (mais de três a cada dois dias).
A estatística inédita não foi compilada por acaso justamente neste mês. O objetivo declarado pelo hospital é tentar discutir os impactos que a regulamentação dos mototáxis -sancionada ontem pelo presidente Lula (PT) e admitida pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM)- poderá ter no sistema de saúde.
A fisiatra Júlia Greve, responsável pelo levantamento, diz que os custos com a internação de motoqueiros acidentados no instituto de ortopedia do HC já passam de R$ 100 milhões por ano -verba suficiente para construir e equipar dois hospitais públicos do porte que a prefeitura planeja para a Brasilândia, zona norte (75 leitos).
Ela afirma que a atividade dos mototáxis elevará de forma inevitável a quantidade de vítimas, que não haverá recursos para suportar esses gastos e que todos os pacientes da rede pública serão prejudicados.
"O sistema de saúde já está estrangulado. O motoqueiro que chegar em estado grave vai roubar a vaga de alguém que estiver menos grave. Uma pessoa com infarto, por exemplo, pode ser mais mal atendida, pode ficar mais tempo na fila ou até deixar de ser atendida", diz a médica. "A despesa com um só motoqueiro acidentado pode ser suficiente para tratar mais de mil casos de gripe suína."
A estimativa é que, nos primeiros seis meses de internação, um motociclista custe R$ 300 mil ao hospital -entre gastos com cirurgia, enfermaria e medicamentos, por exemplo.
Júlia Greve diz não haver levantamentos anteriores no instituto com os mesmos critérios, mas que, no começo da década, a estimativa era que os motociclistas representavam 25% dos atendimentos hospitalares.
No ano passado, as mortes no trânsito na cidade de São Paulo caíram 6,6% -queda que foi atribuída por técnicos principalmente à lei seca. O número de motociclistas mortos, entretanto, subiu 2,6% -atingindo 478 casos, que representam um terço do total de vítimas.


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