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OPINIÃO
Velhos "remédios" para velhos problemas
MARCOS PIMENTEL BICALHO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A DECISÃO da Prefeitura
de São Paulo de proibir
a circulação dos ônibus
de fretamento na região do centro expandido trouxe à tona velhos problemas: no primeiro
plano, a questão dos ônibus fretados e, como pano de fundo, a
caótica situação do trânsito
paulistano.
É necessário organizar a circulação dos ônibus fretados,
que causam uma série de transtornos para todas as demais
pessoas que precisam se movimentar por algumas das principais vias da cidade.
Regras para a circulação e a
parada desses ônibus seriam
bem-vindas, mesmo que venham a impor restrições aos
seus usuários ou às empresas
que exploram o serviço.
Porém, no seu mérito e
graves problemas devem ser
destacados.
Quanto ao primeiro aspecto,
essa ação não pode ser vista de
forma isolada de outras medidas que estão sendo tomadas,
ou foram anunciadas, em relação à gestão da circulação na cidade de São Paulo.
Alguns exemplos são restrições já praticadas à circulação
do transporte de carga, tentativa (fracassada) de suspensão do
rodízio, pacotes de obras viárias e paralisação da construção dos corredores de ônibus
-todas com um claro objetivo
em comum: abrir espaço nas
ruas para o transporte individual, mesmo que isso cause impactos negativos nos demais
modos de transporte.
Fossem outros os objetivos,
isto é, se a sociedade percebesse a proposta da prefeitura como parte de uma política mais
ampla, direcionada para priorizar de fato o transporte
coletivo, medidas similares a
essas colocadas hoje para os
fretados seriam toleradas e até
aplaudidas.
Ao contrário, teme-se que
seu resultado venha a ser o
agravamento do problema da
cidade, tirando usuários de um
modo de transporte coletivo,
ainda que privado.
Caberia agora uma segunda
crítica, com relação à forma
aparentemente precipitada como a restrição foi colocada em
prática. Mesmo em um ambiente favorável, medidas complexas como essa demandam
cuidadoso planejamento, ampla negociação com os
segmentos envolvidos e
flexibilidade (sem perder de
vista os objetivos desejados) na
implementação.
As imagens das enormes filas
de pessoas e de ônibus nos poucos locais destinados à parada
dos fretados eram previsíveis; o
número de ônibus afetados
(cerca de mil, segundo a mídia)
deveria ser de conhecimento
dos técnicos da prefeitura, que
deveriam ter tomado providências com antecedência para
criar condições mínimas para
essas operações; os serviços de
transporte coletivo envolvidos,
principalmente os de alta capacidade (metrô e ferrovia), parecem não ter sido envolvidos no
planejamento da proposta e, ao
contrário, terem sido pegos de
surpresa no seu primeiro dia de
validade.
Condenável pelo mérito e
descuidada na sua operacionalização inicial, a medida perde
força, mesmo em seus possíveis
pontos positivos.
MARCOS PIMENTEL BICALHO é arquiteto, urbanista e superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos)
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