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ANÁLISE
O calendário da gripe
Dados mostram que a aposta das autoridades, de adiar a volta dos estudantes às aulas, é razoável
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Em termos abstratos, a decisão de algumas secretarias estaduais de Saúde de adiar a volta às aulas seria difícil de justificar. O novo vírus A (H1N1), afinal, não parece especialmente
letal nem há indícios de que
crianças e adolescentes constituam grupo que corre riscos
desproporcionais de desenvolver quadros graves da moléstia,
como é o caso das grávidas.
Assim, em condições normais, nada recomendaria alterar o calendário.
Quando se trazem fatores locais para o cálculo, porém, a situação pode mudar de figura.
Para começar, o custo da mudança é relativamente baixo.
Exceto por alguns casos especiais como o dos estudantes
que farão o Enem e o vestibular
ou de pais que não têm com
quem deixar seus filhos, as duas
semanas perdidas agora podem
perfeitamente ser compensadas nas férias de verão. O número de dias de aula não precisa sofrer nenhuma redução.
Do lado dos ganhos, a conta é
mais complicada, pois envolve
várias incógnitas. O raciocínio
por trás da medida é que o adiamento fará com que a volta às
aulas ocorra sob condições
mais propícias, quando já tiverem passado o pico epidêmico e
o clima frio que favorece a
transmissão do vírus.
Em relação ao momento epidêmico, a aposta das autoridades é razoável. A crer na experiência mexicana, o número de
casos da H1N1 começa a declinar de quatro a cinco semanas
após a explosão inicial. Seria
um cenário favorável para o RS
e SP -onde o surto epidêmico
já estará completando um
mês-, e mais incerto para o RJ.
A dúvida é se o modelo mexicano pode ser transposto para o
Brasil. Lá, o H1N1 chegou após
a estação gripal; aqui, durante.
No que diz respeito ao clima,
a incerteza é ainda maior. Embora agosto seja tipicamente
mais quente do que julho, não
há nenhuma garantia de que as
tendências de longo prazo se
materializarão neste ano.
Outro fator a considerar é a
umidade. O vírus encontra condições ideais de propagação
com o clima seco (umidade relativa entre 20% e 35%). Pelo
menos em SP, este mês de julho
anormalmente chuvoso ajuda a
conter o surto. Daqui a duas semanas condições mais secas
podem voltar a preponderar.
Embora os ganhos potenciais
sejam incertos, a aposta das autoridades parece mais justificável quando se considera que as
crianças representam um importante elo de transmissão do
vírus. A primeira avaliação
científica do H1N1, feita no México, apurou uma taxa de ataque clínico (infecção) de 29%
para a população de mais de 15
anos e de 61% para os menores.
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