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Em novo caso de cárcere privado, marido faz mulher refém por 8 h
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Dizendo-se inspirado em
Lindemberg Fernandes Alves,
o algoz da adolescente Eloá
Cristina Pimentel, um cobrador de ônibus desempregado
de Itapecerica da Serra (Grande São Paulo) manteve a mulher sob a ameaça de uma faca
por quase oito horas ontem.
A vendedora Camila Lima
Manin Santos, 20, só foi libertada após a intervenção de
equipes do Gate (Grupo de
Ações Táticas Especiais) da Polícia Militar, comandadas pelo
capitão Adriano Giovanini, o
mesmo negociador do episódio
de Santo André que terminou
com a morte de Eloá. "Ainda
bem que aqui terminou tudo
certo", disse Edilene Oliveira
Lima, mãe de Camila.
De acordo com a polícia e familiares da vendedora, Tiago
Rodrigues de Arruda, 23, aparentando estar sob o efeito de
drogas, começou a agredir a
mulher por volta da 1h de ontem. Pelos cabelos, arrastou
Camila pelos cômodos da casa e
bateu sua cabeça nas paredes e
no chão de casa.
Atendendo aos gritos de socorro da moça, amigos e parentes foram até a residência do
casal, no Jardim Montezano,
onde viram a vendedora dominada pelo marido: com a mão
esquerda ele agarrava a cintura
da mulher e, com a outra, segurava uma faca, com cerca de
50 cm, no pescoço da refém.
A mãe da moça disse temer
por um desfecho trágico porque Tiago dava a impressão de
estar vivendo o personagem
"Lindemberg". "Ele [Tiago] falou várias vezes: "Você não viu o
outro lá [Lindemberg]? Eu vou
fazer também, eu vou fazer a
mesma coisa, vou matá-la." E
não aceitava conversar com
ninguém", disse a mãe.
"Quando eu cheguei [na casa], eles estavam no quarto, ele
disse que estava com um monte
de polícia. Eu disse: "Tiago, não
tem polícia aqui". Ele abriu a janela, estava com a faca no pescoço dela, e falava: "Olha quanta
aí, quanta polícia". E não tinha
polícia. Não tinha chegado ainda. Aí, ele fechou a janela. Estava muito alterado", completou
a mãe de Camila.
Além de ver um cerco policial
imaginário, o desempregado
também afirmava ser vítima de
uma ingratidão amorosa da
mulher -com quem mora há
quase dois anos e havia trabalhado até poucas horas antes.
Segundo os familiares, o casal
nunca teve brigas desse tipo.
"Não aceitava conversar nem
com os próprios pais. Toda vez
que a gente tentava falar com
ele, ou a mãe ou o pai, Tiago
apertava mais a faca no pescoço
dela", disse a mãe da refém.
Rendição
O impasse e o clima tenso durou até por volta das 8h30,
quando Tiago aceitou conversar com capitão Giovanini e,
em seguida, entregar a faca pela
janela e soltar a mulher.
Camila foi levada ao pronto-socorro de Itapecerica com
suspeita de traumatismo craniano (pelas batidas nas paredes e no chão), com cortes na
mão esquerda (ao segurar a faca) e com um corte superficial
no pescoço. A vendedora continuava internada na tarde de
ontem, em observação.
Arruda foi preso por cárcere
privado e lesão corporal. De
acordo com a Polícia Civil, que
está em greve na cidade, ele seria encaminhado a um CDP
(Centro de Detenção Provisória) com vaga disponível. Não
há informação se ele teve passagem pela polícia. Os familiares da mulher dizem que não.
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