São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2008

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Em novo caso de cárcere privado, marido faz mulher refém por 8 h

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Dizendo-se inspirado em Lindemberg Fernandes Alves, o algoz da adolescente Eloá Cristina Pimentel, um cobrador de ônibus desempregado de Itapecerica da Serra (Grande São Paulo) manteve a mulher sob a ameaça de uma faca por quase oito horas ontem.
A vendedora Camila Lima Manin Santos, 20, só foi libertada após a intervenção de equipes do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) da Polícia Militar, comandadas pelo capitão Adriano Giovanini, o mesmo negociador do episódio de Santo André que terminou com a morte de Eloá. "Ainda bem que aqui terminou tudo certo", disse Edilene Oliveira Lima, mãe de Camila.
De acordo com a polícia e familiares da vendedora, Tiago Rodrigues de Arruda, 23, aparentando estar sob o efeito de drogas, começou a agredir a mulher por volta da 1h de ontem. Pelos cabelos, arrastou Camila pelos cômodos da casa e bateu sua cabeça nas paredes e no chão de casa.
Atendendo aos gritos de socorro da moça, amigos e parentes foram até a residência do casal, no Jardim Montezano, onde viram a vendedora dominada pelo marido: com a mão esquerda ele agarrava a cintura da mulher e, com a outra, segurava uma faca, com cerca de 50 cm, no pescoço da refém.
A mãe da moça disse temer por um desfecho trágico porque Tiago dava a impressão de estar vivendo o personagem "Lindemberg". "Ele [Tiago] falou várias vezes: "Você não viu o outro lá [Lindemberg]? Eu vou fazer também, eu vou fazer a mesma coisa, vou matá-la." E não aceitava conversar com ninguém", disse a mãe.
"Quando eu cheguei [na casa], eles estavam no quarto, ele disse que estava com um monte de polícia. Eu disse: "Tiago, não tem polícia aqui". Ele abriu a janela, estava com a faca no pescoço dela, e falava: "Olha quanta aí, quanta polícia". E não tinha polícia. Não tinha chegado ainda. Aí, ele fechou a janela. Estava muito alterado", completou a mãe de Camila.
Além de ver um cerco policial imaginário, o desempregado também afirmava ser vítima de uma ingratidão amorosa da mulher -com quem mora há quase dois anos e havia trabalhado até poucas horas antes. Segundo os familiares, o casal nunca teve brigas desse tipo. "Não aceitava conversar nem com os próprios pais. Toda vez que a gente tentava falar com ele, ou a mãe ou o pai, Tiago apertava mais a faca no pescoço dela", disse a mãe da refém.

Rendição
O impasse e o clima tenso durou até por volta das 8h30, quando Tiago aceitou conversar com capitão Giovanini e, em seguida, entregar a faca pela janela e soltar a mulher.
Camila foi levada ao pronto-socorro de Itapecerica com suspeita de traumatismo craniano (pelas batidas nas paredes e no chão), com cortes na mão esquerda (ao segurar a faca) e com um corte superficial no pescoço. A vendedora continuava internada na tarde de ontem, em observação.
Arruda foi preso por cárcere privado e lesão corporal. De acordo com a Polícia Civil, que está em greve na cidade, ele seria encaminhado a um CDP (Centro de Detenção Provisória) com vaga disponível. Não há informação se ele teve passagem pela polícia. Os familiares da mulher dizem que não.


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