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700 mil vivem em área ilegal em Guarulhos, diz governo
Prefeitura não confirma o número e afirma que tenta resolver problema
Falta de planejamento urbano e crescimento intenso deflagraram ocupações irregulares a partir da década de 1970
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"A gente está dormindo e é
rato andando por cima da gente", conta Ângela Quitéria, 43,
com o olhar voltado para o chão
do barraco em Hatsuta, favela
com esgoto a céu aberto no centro de Guarulhos (região metropolitana de São Paulo). Os
barracos margeiam a calçada
da avenida Tancredo Neves e se
estendem pela estrutura desativada da antiga fábrica de equipamentos agrícolas Hatsuta,
fechada nos anos 1990.
Quando chegou de Alagoas,
ela, o marido e os filhos sentaram nas malas, na calçada, "esperando a sorte". "Uma pessoa
que morava aqui passou e disse:
"Tem um lugar desativado, com
gente morando. Por que vocês
não vão para lá?'"
Na época, havia seis famílias;
hoje, há 430. Muitos vivem da
reciclagem, o que faz com que o
local concentre pilhas de lixo,
por onde as crianças brincam.
"Estou louca para sair daqui."
Semelhantes à Hatsuta há
mais 378 áreas precárias ocupadas, onde moram 231 mil
pessoas, segundo a prefeitura.
Loteamentos irregulares -terrenos cujos antigos donos não
fizeram regularização junto à
prefeitura- somam 241.
Segundo o governo do Estado, Guarulhos é a cidade paulista com mais população em
áreas irregulares -são 700 mil,
de um total de 1,2 milhão de habitantes. A prefeitura local não
confirma os números.
O crescimento intenso
-principalmente nos anos
1970 e 1980, devido à expansão
industrial e à construção do aeroporto-, aliado à falta de planejamento urbano, criou ocupações no entorno do aeroporto, de áreas de mananciais e de
proteção ambiental.
No Jardim Fortaleza, por
exemplo, Maria Alice, 31, colhe
mandioca, café, laranja -que o
pai plantou, nos anos 1990, na
encosta da serra da Cantareira.
"Quando a imobiliária veio, para abrir caminho para os loteamentos, pôs meu pai aqui em
cima." De casa, ela vê os 150 loteamentos e ocupações irregulares sobre a mata atlântica.
Em área de manancial há 20
anos, Eduardo Perreira, 69, reclama que o "rio valente" -Baquirivu, sub-bacia do Tietê- já
tragou móveis, barracos e até
um "pé de abacate", em chuvas
passadas. Um dos primeiros a
chegar ali, viu a população aumentar e a criação de duas penitenciárias e dois centros de
detenção, que trouxeram o rio
mais para perto. "Eu sei que estamos em área de risco, mas o
que podemos fazer, moça?"
A Secretaria de Habitação de
Guarulhos diz que está urbanizando, com recursos federais,
áreas ocupadas por 31 mil famílias e que pretende entregar
700 moradias até o fim do ano
-mais 500 até o fim de 2010.
Entre 2001 e 2008, 1.500 famílias foram removidas para conjuntos da CDHU, em parceria
com o governo do Estado.
Sobre a Hatsuta, disse que,
por ser área dada como garantia a empréstimo federal -que,
após 17 anos de pendência, continua sem dono-, não há "possibilidade" de intervir e aconselha os moradores a se cadastrarem no programa federal "Minha Casa Minha Vida", que prevê construção de 400 mil moradias para a baixa renda.
Sobre o Jardim Fortaleza, diz
que há ação do Ministério Público contra os proprietários
para recomposição da área. Para a favela do Baquirivu, afirma
negociar parceria com a CDHU
para 2010.
(NATÁLIA PAIVA)
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