São Paulo, sábado, 15 de outubro de 2011

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Persistente por vocação, ele fez de São Paulo uma cidade cinéfila

ANA PAULA SOUSA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Nos últimos meses de vida, Leon Cakoff viu, reviu e exibiu para amigos o último fruto de sua paixão: "O Mundo Invisível", coletânea de curtas assinados por grandes nomes do cinema -Theo Angelopoulos, Atom Egoyan e Wim Wenders entre eles.
Parecia tomado por um sentimento contraditório. Ao mesmo tempo em que desejava ver concluído o filme, parecia crer que a não conclusão da obra o manteria vivo, como se, sem o filme pronto, não fosse possível morrer.
Mostrou, na doença, a mesma resistência e teimosia que, ao longo de 35 anos, usou para fazer seu festival.
Não fosse sua vocação para insistir em lutas que a maioria das pessoas consideraria de antemão perdidas, não teria transformado a Mostra no mais significativo festival da América Latina.
Não teria convencido Federico Fellini e Akira Kurosawa a desenhar cartazes para um evento no remoto Brasil.
Não teria transformado em habitués diretores como Wim Wenders e Abbas Kiarostami.
Costumava dizer que a história de um imigrante é uma história de resistência. "Penso, logo, resisto", escreveu no livro "Cinema sem Fim" (Imprensa Oficial, 2007).
Nos primeiros textos publicados nos "Diários Associados", relatava desde casos policiais até coquetéis de vernissages -assuntos típicos de quem começa no jornalismo no horário noturno.
Não demorou, porém, para conseguir canto melhor na Redação. No fim dos anos 60, tornou-se crítico de cinema.
Abria-se assim a porta que o colocou, em 1974, no departamento de cinema do Masp e, três anos depois, fez nascer a 1ª Mostra Internacional de Cinema, destinada a celebrar os 30 anos do museu.
O prêmio do público, marca registrada do evento até hoje, foi para Hector Babenco por "Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia".
Em 1984, insatisfeito com os rumos do evento, passou a fazê-lo fora do Masp. De lá para cá, a Mostra só fez crescer: em tamanho e prestígio.
Na primeira edição, tinham sido 16 longas e sete curtas. No ano passado, exibiu mais de 400 títulos divididos por 22 espaços.
Reuniu, por exemplo, milhares de pessoas no parque Ibirapuera para ver "Metrópolis" (1927), de Fritz Lang exibido ao som de orquestra.
Graças ao cuidado com a história do cinema -ao lado da vocação para a descoberta-, Cakoff e Renata de Almeida, sua mulher durante 22 anos e também diretora de Mostra, lapidaram o olhar do público a ponto de São Paulo ter virado uma das cidades mais cinéfilas do mundo.


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