São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2010

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Butantan tinha R$ 1 mi para reformas

Verba da Fapesp poderia ter sido usada em segurança de prédio antes de incêndio, mas acabou alocada para outros fins

Diretor reconhece que tinha dinheiro à disposição; após reavaliação, pesquisadores dizem que parte do acervo queimado será recuperada


Danilo Verpa/Folha Imagem
Mutirão de cientistas passa de mão em mão serpentes conservadas em formol, salvas do incêndio do último sábado no Butantan

REINALDO JOSÉ LOPES
RICARDO MIOTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não foi por falta de dinheiro que o Instituto Butantan não melhorou a segurança de seu acervo de serpentes.
Entre 2007 e 2008, a instituição recebeu quase R$ 1 milhão da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para reforçar sua infraestrutura. Segundo levantamento feito pela Fapesp, esse montante veio de uma modalidade de financiamento conhecida como reserva técnica.
Esse dinheiro pode ser usado também para adquirir equipamentos importantes para os projetos, mas a maneira como ele é gasto é determinada não pela Fapesp, mas pela própria instituição que o recebe.
Ainda de acordo com a fundação, principal financiadora da ciência paulista, nenhuma fração dos recursos foi empregada em sistemas de prevenção de incêndio no Butantan.
De acordo com a Fapesp, o instituto apresentou propostas para outros editais mais recentes, que aceitaram inscrições até o fim de dezembro do ano passado e março deste ano. Esses editais pertencem a um programa de apoio à infraestrutura de instituições científicas, o qual inclui verba para coleções biológicas.
No primeiro caso, o Butantan pediu verbas da ordem de R$ 419 mil e US$ 146 mil (nesse caso, para gastos em dólar). O plano era informatizar as coleções do instituto. No segundo, os recursos requisitados (R$ 877 mil) se destinariam a classificar e informatizar o acervo de documentos históricos.
Nesses casos, também não houve menção à necessidade de prevenir incêndios.
Otávio Mercadante, diretor-geral do Instituto Butantan desde 2003, admite que não faltou dinheiro. "O dinheiro vinha [para o Butantan] de várias fontes. Do BNDES, da Fapesp, da Fundação Butantan, da Finep."
Segundo ele, apesar do incêndio, os prédios do local são seguros, e havia manutenção periódica. "Todos eles têm uma infraestrutura que é adequada. Apesar de velhos, eles têm instalação elétrica nova."
"Estamos fazendo uma nova subestação de eletricidade de R$ 10 milhões, por exemplo", diz ele, concordando em seguida que um sistema anti-incêndio custaria bem menos.
Logo depois do desastre, Francisco Franco, curador da coleção destruída, disse que o instituto pedira, sem sucesso, recursos da Fapesp para um sistema de combate automático a incêndio, nos moldes de museus estrangeiros.
Ontem, Franco corrigiu. "Parece que esse pedido não foi encaminhado. Não tenho certeza", diz ele. "Não poderia ter acontecido, mas aconteceu. "C"est la vie." [É a vida]."
Agora, segundo Mercadante, BNDES, Fapesp e o governo estadual já entraram em contato oferecendo dinheiro para construir um novo prédio, com métodos modernos contra o fogo.
Ontem, a Defesa Civil vistoriou o velho galpão incinerado. Parte do telhado ameaça desabar, tornando arriscado o resgate do que sobrou.
Segundo Franco, hoje pela manhã o telhado será escorado. Após isso, os pesquisadores poderão entrar no prédio e retirar o material que sobrou.
Eles ainda não sabem bem quanto do acervo poderá ser recuperado. "O resultado dessa avaliação só sairá depois de um trabalho de formiguinha. São vários vidrinhos com nomezinhos, não é uma operação simples", diz Mercadante.
Tendo observado brevemente o interior do prédio, porém, os cientistas já acreditam que parte razoável do material será salva. "Antes eu tinha plena certeza de que tínhamos perdido tudo", diz Franco.


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