São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES 2008 / VIOLÊNCIA

Criminosos monitoram candidatos no ABC

Em São Bernardo, candidato a prefeito do PSDB interrompeu corpo-a-corpo em favela após ameaça de adolescentes

Candidato da oposição em Diadema foi vigiado por jovens com rádios na favela Nova Conquista e também apressou o fim de sua visita

ADRIANO CEOLIN
EM SÃO BERNARDO DO CAMPO

Ao subir nos morros do ABC, candidatos a prefeito têm de enfrentar o monitoramento e algumas vezes se submeter a acordos para pedir votos. Oficialmente, os comandos das campanhas negam qualquer tipo negociação, mas a Folha identificou um candidato a vereador e um auxiliar de ex-prefeito que têm contato com criminosos que dominam áreas.
Na semana passada, a reportagem acompanhou duas situações em que candidatos sofreram constrangimentos e até ameaças. Em São Bernardo, o candidato governista Orlando Morando (PSDB) teve de interromper um corpo-a-corpo na favela Pai Herói, no bairro Jardim Farina, área conhecida como ponto de tráfico de drogas.
Após deixar um bar na favela, o tucano ouviu dois adolescentes cobrarem a construção de uma quadra no local. Candidato apoiado pelo prefeito Willian Dib (PSB), Morando preferiu não responder. Em seguida, uma mulher que fazia campanha para ele disse que era melhor não descer até o fim da rua porque "os moleques estavam dizendo que ia ter pipoco".
Na quinta-feira passada (18), o candidato oposicionista em Diadema, José Augusto (PSDB), foi monitorado por jovens com rádios comunicadores enquanto fazia uma visita à favela Nova Conquista. Quase próximo do fim da atividade, o candidato a vereador Zé da Bomba (PSB) disse a Augusto que era melhor acelerar a saída da área. "Sou morador e procuro respeitar a todos para que me respeitem também. Você tem de saber onde entra", disse Zé da Bomba, que é servidor.
Após o incidente na favela Pai Herói, Orlando Morando ganhou um comitê no bairro, o "Ponto de Amigos", montado por Ademir Silvestre (PSB), candidato a vereador da coligação tucana. Ele disse que teve de contratar pessoas indicadas por grupos de criminosos.
Na campanha de Luiz Marinho, candidato do PT em São Bernardo, quem se apresenta como negociador para ir aos morros é José Manuel Fernandes, o Grilo, que há anos atua como líder comunitário junto à prefeitura. "Por que os políticos vão atrás dos criminosos? Porque no dia-a-dia quem ajuda na comunidade são eles. É remédio, é cesta básica. Os políticos só vêm de quatro em quatro anos", diz Grilo.

Comando nega
Os comandos de campanha de Marinho e Morando negaram manter pessoas que fazem acordo com o crime organizado. "O Ademir Silvestre já coordenou outras campanhas, mas nesta é só candidato a vereador. Eu desconheço isso", disse o vereador Névio Carlone (PSB), coordenador de Morando.
O ex-prefeito de São Bernardo Maurício Soares (PT) confirmou que José Manuel Fernandes, o Grilo, trabalha junto a ele, mas disse desconhecer qualquer atuação do líder comunitário: "Pode ser que ele tenha feito, mas eu não sei".
Os delegados seccionais de Diadema, Ivaney Cayres, e de São Bernardo, Elaine Pacheco, dizem nunca ter recebido reclamações de políticos com dificuldades de fazer campanha.


Texto Anterior: Se for eleito(a), que ações específicas e prioritárias pretende adotar na zona leste da cidade?
Próximo Texto: Entrevista: "Tem que trabalhar com o tráfico", diz candidato do PSB
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.