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Entrevista Soninha Francine
Soninha critica a Câmara e diz que não apoiará ninguém no 2º turno
Vereadora admite que seu programa é criticado pelos que a cercam, mas é adorado "no fundão de Guaianazes"
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
RANIER BRAGON
EM SÃO PAULO
Ela reconhece que só um milagre a levará ao segundo turno.
Mas antecipa: não apoiará nenhum dos que sobreviverem à
disputa. Soninha Francine
(PPS), 41, com 4% das intenções de voto, segundo o Datafolha, já tem planos para o pós-5
de outubro, caso ela não seja escolhida: "Vou sumir".
A vereadora enumera críticas ao PT, seu ex-partido, ao
DEM e ao PSDB, mas elogia
muito o governador José Serra
(PSDB). Admite que a qualidade do seu programa eleitoral é
criticada pelos que a cercam
-"mas lá no fundão de Guaianazes as pessoas adoram"- e se
diz decepcionada com a Câmara Municipal. A ponto de dizer
que escreverá um "catálogo da
desonestidade, de A a Z".
FOLHA - O voto de quem você procura?
SONINHA FRANCINE - Do eleitor
desiludido, de quem já não bota
muito mais fé, não se conforma
com o estado das coisas, pensa
coletivamente, na cidade, mas
não bota mais fé na política para mudar as coisas. Gente cansada das promessas algodão doce... [tipo] "já fizemos muito, te
darei o céu", mas também já
cansaram do discurso contra
tudo e contra todos.
FOLHA - Ivan Valente diz que suas
propostas não são do PPS, mas suas.
SONINHA - Então por que o PPS
me escolheu para candidata?
FOLHA - Porque não tinha outro...
SONINHA - Não precisava ter,
nunca teve antes. Quis disputar
esta eleição justamente por que
queria ter uma candidata como
eu, por isso me convidou. Uma
das coisas que me atraiu ao PPS
foi o PPS se reconhecer em São
Paulo como um partido quase
invertebrado.
FOLHA - Você é a espinha dorsal do
PPS hoje?
SONINHA - Sim, sem dúvida.
Hoje sou. Cheguei e sentei na
janelinha. Em São Paulo.
FOLHA - Você acredita que vai ao
segundo turno?
SONINHA - Seria quase um milagre. Ele pode acontecer.
FOLHA - Não indo ao segundo turno, quem você apoiará?
SONINHA - Nenhum dos quatro
à minha frente. (...) O PPS, nas
últimas eleições, esteve ao lado
do PSDB. Para mim, apoiar o
PSDB em uma eleição? Saí do
PT, me desiludi com o PT, mas
daí a apoiar o PSDB ou o DEM?
Vou respeitar a decisão do meu
partido, não vou bater de frente, mas não vou gravar apoio na
televisão. Eu vou sumir entre o
primeiro e o segundo turno, se
não for eu a candidata. Vou voltar para a Câmara, tenho milhões de coisas para fazer.
FOLHA - Por que não apoiar?
SONINHA - O DEM, porque não
tenho nenhuma identificação
ideológica. O PT e o PSDB, porque têm defeitos muito parecidos. Defeitos do tipo que me levaram a sair do PT. O PSDB
também tem, que é abraçar o
vale-tudo para derrotar o adversário. Vale qualquer tipo de
coligação, torturar os números
até que eles digam o que você
quer que digam. Não suporto
isso, não suporto ver o horário
eleitoral do PT e do PSDB.
FOLHA - O do DEM não tem isso?
SONINHA - O Kassab está se
portando mais cavalheirescamente, de modo geral, no horário eleitoral. Menos golpes
abaixo da cintura, mas tem
também os dele, como prometer que não vai aumentar a passagem. Tem medidas na prefeitura, como essa ampliação
oportuna do bilhete único para
três horas, o que na verdade é
parcial, porque não atendeu a
estudante e o vale-transporte.
Também tem golpes baixos.
FOLHA - Cansada do Legislativo,
aceitaria ser secretária de governo?
SONINHA - Acho muito difícil.
FOLHA - Você foi procurada para
ser vice?
SONINHA - O partido foi, mas
ninguém nunca falou comigo
diretamente. O partido em nenhum momento balançou.
FOLHA - Você teria balançado?
SONINHA - De jeito nenhum. A
graça de disputar a prefeitura,
além do objetivo de ser prefeita
um dia, é demonstrar uma outra maneira de ler a cidade, de
ler a política e de fazer política.
Isso seria completamente impossível em uma candidatura
tucana ou democrata. Eu faria
questão de escrever o meu texto do horário eleitoral.
FOLHA - Esse texto está tento receptividade, você em pé, falando?
SONINHA - Entre meus pares,
jornalistas, comunicólogos, especialistas em mídia e marketing, não. Falam que o programa é pobre, é equivocado, que
precisaria concentrar mais o
discurso em dois ou três temas,
e ficar só com eles, que é texto
demais, que eu falo muito rápido, as pessoas não entendem.
Esse é o retorno do meu grupo.
Agora, lá no fundão de Guaianazes, as pessoas adoram.
FOLHA - Não acha que o tom é professoral, infantil até?
SONINHA - As pessoas da nossa
categoria assim entendem, as
outras não. (...) O povão, a classe C, D e E, saca que não é tática
de conquista de eleitorado, que
é a exposição de uma crença.
FOLHA - Se arrependeu da frase sobre negociatas?
SONINHA - Não. É totalmente
coerente com minha vida lá
nestes quatro anos. É proibido
criticar os colegas. É tão proibido que é quase constrangedor
dar parecer contrário a pareceres de colegas nas comissões.
(...) Aprovação de projeto é
sempre com acordo. Acordo
implica em uma troca, e a troca
pode ser razoável, ou pode ser...
FOLHA - Acordo ilegítimo?
SONINHA - Às vezes ele é ilegítimo. Eu questiono a legitimidade do próprio modelo. Quer dizer que não importa se o projeto é bom, ruim, urgente, ou de
menor relevância, o que importa é se os autores acordaram?
FOLHA - Desiludida com a Câmara?
SONINHA - Iludida eu nunca estive, mas eu consegui me decepcionar...
FOLHA - Conseguiu mexer com alguma coisa?
SONINHA - Consegui. Pelo menos dar visibilidade da Câmara
ao público em geral. Porque
certas vezes dar um voto contrário, que não muda o resultado da votação, muda a visibilidade daquela sessão. "Ué, por
que um voto contra?" Às vezes
menos do que eu gostaria. Eu
fui a única vereadora que registrou o voto contrário no atual
presidente da Câmara [Antonio Carlos Rodrigues, do PR]. A
primeira eleição para presidente da Câmara foi de uma tensão
absurda. Naquela noite, eu tive
o sonho, a alegoria, mais ridícula da minha vida. Sonhei que estava me debatendo em uma
piscina de merda, só com a cabeça para fora. Foi na noite seguinte à eleição da Mesa Diretora, primeiro dia de vereadora.
FOLHA - Por que não votou no
atual presidente da Câmara?
SONINHA - Porque o modo como ele vê a política, o Legislativo, as relações do Legislativo
com o Executivo, com o eleitorado, com a mídia, em nada
combina com a minha. O que
posso dizer que admiro no Antonio Carlos Rodrigues é a sinceridade. Porque ele bota o dedo no nariz e diz: "Vou para cima de você". Ele já disse em entrevista que eu estava sofrendo
boicote, sim, em represália ao
fato de não ter votado nele.
FOLHA - O catálogo da desonestidade de A a Z será baseado na experiência na Câmara? Cite exemplos.
SONINHA - Vai ser. Um: o vereador apresentar um projeto
muito interessante do ponto de
vista do interesse público que
ele não tem o menor interesse
em botar em votação. Ele vai
para sempre ostentar o projeto
no seu currículo, mas ele nunca
vai indicar aquele como o seu
projeto do acordo para ser votado em plenário. Outro: fingir
que ignora as verdadeiras intenções por trás de uma determinada postura. (...) Esse fingir
que ignora o que está por trás
de um acordo, de um determinado encaminhamento, foi
uma forma nova de desonestidade que aprendi.
FOLHA - Há chance de você assumir
a prefeitura e se desiludir no 1º dia?
SONINHA - Acho que eu já conheci o pior possível. Qual é o
pior possível? São as pessoas
que têm uma história parecida
com a sua, ou de enfrentamentos tensos em nome da sua
crença, [pessoas] que eu admirava....Fazerem isso.
FOLHA - Você passou a admirar
pessoas que estavam do outro lado?
SONINHA - Sim, basicamente o
[José] Serra.
FOLHA - Ele foi um estímulo para
você concorrer, ou incentivou você?
SONINHA - Não, muito pelo contrário. Mas ao mesmo tempo
que tem pessoas que eu admirava que me chocaram, pelo
que elas chamam de pragmatismo, de "política é assim mesmo". A pessoa de quem eu tinha
uma impressão horrível e hoje
eu admiro muito é o Serra. E isso para o PT é a morte.
FOLHA - Você discutiu com ele a
idéia de concorrer?
SONINHA - Com ele e com todos
os meus amigos.
FOLHA - Ele é um amigo?
SONINHA - É um amigo.
FOLHA - Ele apóia o Kassab?
SONINHA - A gente não pode falar em nome dele. É muito meu
amigo, mas a gente não comenta. Muitos tucanos teriam escolhido o Kassab como candidato
da chapa do PSDB. Possivelmente o Serra também.
FOLHA - E suas prioridades?
SONINHA - A principal é a reconfiguração da distribuição de
atividade econômica e moradia
da cidade. Na educação e na
saúde há duas medidas de
emergência, como se fossem
pós-Katrina, "mutirão para tirar atraso". Atraso na educação
é a defasagem de ter adolescentes que não sabem ler. Soem as
sirenes! Chamem helicópteros
e a ONU! Para onde vai essa
molecada? Eu vou fazer isso no
ano que vem, se eu não for prefeita. Vou chamar as forças de
paz, a Cruz Vermelha, a Crescente Vermelha. Cada bairro
adota uma escola. Na saúde, essa coisa de seis meses por um
exame, vamos fazer mutirões.
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