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ELIO GASPARI
Mantega deu-se ao terrorismo político
E se a votação da CPMF
for um ensaio para a emenda
constitucional que permite
o terceiro mandato?
QUANDO O ministro da Fazenda, Guido Mantega, diz que,
"sem a CPMF, estamos perdidos", o comissariado recorre ao
terrorismo político, indicando uma
nascente estratégia de tensão.
É um lero-lero herdado do tucanato: se não fizeres o que teu mestre
mandar, haverá uma crise econômica que comprometerá a governabilidade. Ninguém estará perdido se a
CPMF acabar. Mesmo que houvesse
algum risco de catástrofe, ela teria
sido fabricada pelos çábios do Planalto durante todo o primeiro semestre deste ano.
Desde janeiro, quando começaram as negociações para que se conseguissem os três quintos das duas
Casas do Congresso necessários para a prorrogação da alíquota de
0,38% do imposto do cheque, o governo comportou-se como um negociador de má-fé. Acenou com um
uma redução gradativa da tunga e
chegou a ensaiar uma proposta de
partilha com os Estados e os municípios. Era teatro. A cada início de
conversas, correspondeu uma porta
fechada.
Em agosto, o ministro Mantega
anunciou que a CPMF devia ser
aprovada como estava, pois as compensações viriam numa reforma tributária que iria ao Congresso em setembro. Cadê? O Planalto ainda não
tem um projeto e há até o risco de
que prepare um mostrengo.
A prorrogação pura e simples dessa "contribuição provisória", inventada pelo tucanato e combatida por
todos os petistas, é desnecessária.
Atende apenas à voracidade da
União e dos governadores de Estados. Com os números do primeiro
semestre, a Receita Federal revelou
que, se a CPMF não existisse, ainda
assim a arrecadação de 2007 teria
aumentado em R$ 2,8 bilhões. O governo quer mais dinheiro para gastar mais, o resto é conversa fiada.
O susto que circula pelo plenário
do Senado deriva da estratégia oportunista dos çábios. Acharam que o
apoio de meia dúzia de governadores, puxados por José Serra, Aécio
Neves e Yeda Crusius resolveria o
problema. Resolveu na Câmara, ensinando que o Senado, onde cada
Estado tem o mesmo número de cadeiras, é uma instância distinta e necessária do processo legislativo.
O governo ainda acha que aprova a
prorrogação, mas se deu conta de
que precisará negociar mais do que
pretendia. Nada a ver com o Apocalipse anunciado por Mantega. A
cláusula da negociação está na própria emenda mandada por Nosso
Guia ao Congresso.
Lá se lê que a alíquota será de
0,38%, ficando "facultado ao Poder
Executivo reduzi-la ou restabelecê-la, total ou parcialmente, nos termos
definidos em lei". Ou seja, o governo
pode sentar de boa-fé com a oposição, comprometendo-se com uma
outra alíquota, menor. Sanciona-se
a emenda e, no dia seguinte, Nosso
Guia baixa uma Medida Provisória
com o novo percentual.
Quando Mantega vem com a história de "estamos perdidos", sugere
um confronto que poderá resultar
na derrubada da proposta de emenda e, aí sim, no fim da CPMF.
Nesse caso, o Apocalipse, além de
irreal terá sido provocado pelo Planalto, pois o Senado não é uma empresa de consultoria, é um poder republicano.
Quando o governo sabe que pode
negociar e prefere simular (ou provocar) o fim do mundo, vem uma
suspeita: a votação da CPMF é o ensaio para a aprovação de outra
emenda constitucional, aquela que
dará a Lula a capacidade de disputar
o terceiro mandato.
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