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Gravação da PF sugere doação de R$ 500 mil da Cisco ao PT
Diálogo interceptado indica que empresa buscaria benefício em licitação da Caixa
Polícia vai apurar teor da conversa em outra etapa do
trabalho de investigadores da Operação Persona, que
mira multinacional dos EUA
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Durante a investigação da
Operação Persona, que apontou um prejuízo de R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos, a Polícia Federal gravou conversas
telefônicas entre empresários
do setor de informática que relatam uma "doação" de R$ 500
mil ao PT. Os interlocutores sugerem que o dinheiro seria uma
contrapartida para algum tipo
de benefício numa licitação da
Caixa Econômica Federal.
Segundo apurou a Folha, a
informação consta no relatório
preparado pela Polícia Federal,
que investigou durante dois
anos o suposto grupo criminoso. Na semana passada, foram
presas 42 pessoas acusadas de
formação de quadrilha, sonegação fiscal, descaminho e corrupção de agentes públicos, entre outros crimes.
As referências à palavra
"doação", conforme documento da PF, partem do fundador
da Cisco do Brasil, Carlos Carnevali, e de executivos da Mude
Comércio e Serviços Ltda.,
apontada como a importadora
oculta da Cisco -Francisco
Gandin, José Roberto Pernomian e Fernando Grecco.
Num dos trechos do relatório, a PF informa que Grecco
conversa com Pernomian, ambos da Mude, para "acertarem
valores e datas do negócio de
Carlinhos Carnevali com um
representante do PT". Em outro momento, a polícia relata
um diálogo entre Carnevali e
Gondin, em que este cita negócios entre o fundador da Cisco
e a Caixa. Não há no documento referência ao nome do suposto contato do PT com os
executivos da Cisco e da Mude.
No Tribunal Superior Eleitoral também não existe qualquer registro de doação da Cisco ou de Carnevali a petistas.
Carnevali e Pernomian estão
presos na PF em São Paulo.
A Folha apurou que a PF
ainda não abriu uma investigação para apurar a suposta existência da "doação" nem em relação à eventual interferência
em uma licitação da Caixa. O
teor dos diálogos será alvo de
uma segunda etapa do trabalho
dos investigadores que atuaram na Operação Persona.
Existe a suspeita de que o
grupo de investigados, com a
Cisco e a Mude à frente, tenha
montado um esquema de fraudes com ramificações pelo serviço público. Na Operação Persona, ao menos sete auditores
da Receita Federal foram citados como envolvidos no esquema de sonegação de imposto.
Por meio da assessoria de
imprensa, a PF informou que
não se pronunciaria sobre o assunto porque é parte de um relatório da Operação Persona
que está sob segredo de Justiça.
Na composição executiva da
Caixa, a atual presidente é Maria Fernanda Ramos Coelho, filiada ao PT de Pernambuco, e a
vice-presidente de Tecnologia
da Informação, Clarice Coppetti, tem longa trajetória no
PT gaúcho. Coelho assumiu a
presidência em 2006, no lugar
de Jorge Mattoso, numa das
maiores crises do banco.
Mattoso deixou o cargo no
escândalo da quebra ilegal de
sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, que em depoimento à CPI dos Bingos afirmou que o então ministro da
Fazenda Antonio Palocci freqüentava uma casa em Brasília
na qual eram feitos acertos para pagamentos de propina.
Multinacional de origem
americana, a Cisco domina cerca de 80% do mercado de equipamentos de informática no
Brasil. Indiretamente, ou seja,
por meio de empresas que só
comercializam seus produtos,
fornece material, por exemplo,
para a Receita, que atuou na investigação que revelou o esquema de fraudes montado pela
parceria Cisco/ Mude.
Segundo a investigação da
PF, da Receita e do Ministério
Público, Cisco e Mude montaram uma cadeia de empresas
nos EUA e no Brasil para introduzir no país produtos de informática com preços até 70%
mais baixos que a média do
mercado. Nos últimos cinco
anos, segundo a Receita, os envolvidos deixaram de recolher
R$ 1,5 bilhão em impostos,
usando notas frias, subfaturamento de importados, "laranjas" e "offshores"
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