São Paulo, sábado, 23 de janeiro de 2010

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Construtora doou R$ 4 mi sem recibo em 2006, diz PF

Planilha apreendida lista, além de doações declaradas, pagamentos em dinheiro

Do total de financiamentos eleitorais da Camargo Corrêa, 195 foram registrados no TSE; empresa diz que não comenta documentos ilegais


FERNANDO BARROS DE MELLO
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Planilha apreendida pela Polícia Federal durante a Operação Castelo de Areia aponta que o grupo Camargo Corrêa doou R$ 4 milhões em dinheiro a candidatos e partidos políticos, nas eleições de 2006, sem recibo nem registro no Tribunal Superior Eleitoral.
O documento foi encontrado em um pendrive (dispositivo que armazena dados) apreendido pela PF em março do ano passado na casa de Pietro Bianchi, um dos diretores da construtora. A Folha teve acesso à íntegra do relatório final da PF sobre o caso e aos documentos apreendidos com na operação.
A defesa da empresa diz que todo o material apreendido durante a Castelo de Areia, inclusive a planilha de doações, está sub judice e, se o Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmar a decisão liminar que suspendeu a operação, todo o material será considerado ilegal (leia texto nesta página).
A planilha que foi apreendida com Bianchi, apontado pela PF como o responsável dentro da Camargo Corrêa por todos os gastos "por fora" referentes às obras e aos repasses a agentes públicos, traz 232 doações a candidatos ou partidos, num total de R$ 34,94 milhões.
Desse total, 195 doações referem-se a transferências feitas em cheques ou transações bancárias. Estas são acompanhadas pelo número de recibo e foram devidamente declaradas ao TSE como repasses oficiais.
O relatório da PF aponta, porém, que "cerca de 11,6% das doações do grupo teriam sido realizadas através de pagamentos feitos em dinheiro vivo, sem apresentação de recibo".
Levantamento da Folha comprovou que as doações listadas na planilha como tendo sido feitas em cheque, com recibo, estão registradas no TSE. Por outro lado, nenhum dos repasses que teriam sido feitos em dinheiro foi registrado pelos supostos beneficiários.
Entre os políticos mencionados como tendo recebido valores em dinheiro e sem recibo estão o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), com R$ 510 mil, e os ex-deputados federais Robson Tuma (então no PFL), com R$ 175 mil, e Delfim Netto (PMDB-SP), com duas anotações de R$ 100 mil cada uma.
Aparecem ainda os deputados José Genoino (PT-SP), listado como "Genuímo", e que teria recebido R$ 90 mil; Antonio Palocci (PT-SP), com dois registros de R$ 50 mil; Jilmar Tatto (PT-SP), com R$ 50 mil, e João Paulo Cunha (PT-SP), com R$ 70 mil. Também está na lista o vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), com R$ 50 mil.
Os políticos localizados pela reportagem afirmaram não ter recebido doações ilegais.
Na lista apreendida, constam três doações a Robson Tuma, então candidato à reeleição para a Câmara dos Deputados. Duas foram feitas em cheque e com recibos, cada uma no valor de R$ 50 mil. Ambas aparecem no TSE. Só a doação que teria sido feita em dinheiro, em 15 de setembro, de R$ 175 mil, não está nos registros do tribunal.
A planilha, além de trazer as doações e a forma de pagamento, cita, em alguns casos, o nome de um contato do beneficiário. É o caso de José Genoino. Ao lado da informação sobre o valor em dinheiro, está escrito "Danilo" e um número de celular. A Folha localizou Danilo nesse número. Ele disse que presta "consultoria jurídica informal" ao deputado, sem jamais se envolver com doações.


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