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Construtora doou R$ 4 mi sem recibo em 2006, diz PF
Planilha apreendida lista, além de doações declaradas, pagamentos em dinheiro
Do total de financiamentos
eleitorais da Camargo Corrêa, 195 foram registrados no
TSE; empresa diz que não
comenta documentos ilegais
FERNANDO BARROS DE MELLO
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Planilha apreendida pela Polícia Federal durante a Operação Castelo de Areia aponta
que o grupo Camargo Corrêa
doou R$ 4 milhões em dinheiro
a candidatos e partidos políticos, nas eleições de 2006, sem
recibo nem registro no Tribunal Superior Eleitoral.
O documento foi encontrado
em um pendrive (dispositivo
que armazena dados) apreendido pela PF em março do ano
passado na casa de Pietro Bianchi, um dos diretores da construtora. A Folha teve acesso à
íntegra do relatório final da PF
sobre o caso e aos documentos
apreendidos com na operação.
A defesa da empresa diz que
todo o material apreendido durante a Castelo de Areia, inclusive a planilha de doações, está
sub judice e, se o Superior Tribunal de Justiça (STJ) confirmar a decisão liminar que suspendeu a operação, todo o material será considerado ilegal
(leia texto nesta página).
A planilha que foi apreendida com Bianchi, apontado pela
PF como o responsável dentro
da Camargo Corrêa por todos
os gastos "por fora" referentes
às obras e aos repasses a agentes públicos, traz 232 doações a
candidatos ou partidos, num
total de R$ 34,94 milhões.
Desse total, 195 doações referem-se a transferências feitas
em cheques ou transações bancárias. Estas são acompanhadas pelo número de recibo e foram devidamente declaradas
ao TSE como repasses oficiais.
O relatório da PF aponta, porém, que "cerca de 11,6% das
doações do grupo teriam sido
realizadas através de pagamentos feitos em dinheiro vivo,
sem apresentação de recibo".
Levantamento da Folha
comprovou que as doações listadas na planilha como tendo
sido feitas em cheque, com recibo, estão registradas no TSE.
Por outro lado, nenhum dos repasses que teriam sido feitos
em dinheiro foi registrado pelos supostos beneficiários.
Entre os políticos mencionados como tendo recebido valores em dinheiro e sem recibo
estão o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), com R$ 510
mil, e os ex-deputados federais
Robson Tuma (então no PFL),
com R$ 175 mil, e Delfim Netto
(PMDB-SP), com duas anotações de R$ 100 mil cada uma.
Aparecem ainda os deputados José Genoino (PT-SP), listado como "Genuímo", e que
teria recebido R$ 90 mil; Antonio Palocci (PT-SP), com dois
registros de R$ 50 mil; Jilmar
Tatto (PT-SP), com R$ 50 mil,
e João Paulo Cunha (PT-SP),
com R$ 70 mil. Também está
na lista o vice-governador de
São Paulo, Alberto Goldman
(PSDB), com R$ 50 mil.
Os políticos localizados pela
reportagem afirmaram não ter
recebido doações ilegais.
Na lista apreendida, constam
três doações a Robson Tuma,
então candidato à reeleição para a Câmara dos Deputados.
Duas foram feitas em cheque e
com recibos, cada uma no valor
de R$ 50 mil. Ambas aparecem
no TSE. Só a doação que teria
sido feita em dinheiro, em 15 de
setembro, de R$ 175 mil, não
está nos registros do tribunal.
A planilha, além de trazer as
doações e a forma de pagamento, cita, em alguns casos, o nome de um contato do beneficiário. É o caso de José Genoino.
Ao lado da informação sobre o
valor em dinheiro, está escrito
"Danilo" e um número de celular. A Folha localizou Danilo
nesse número. Ele disse que
presta "consultoria jurídica informal" ao deputado, sem jamais se envolver com doações.
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