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"Só tupiniquim usa tese falida do Estado mínimo", diz Dilma
Para ministra, quem defende mercado como solução para tudo está "contra a realidade'
Petista diz que Lula "não pode dar uma opiniãozinha que é intervencionista", mas aceita rótulo de que governo é "nacionalista e estatizante"
Sérgio Lima/Folha Imagem
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Aministra Dilma Rousseff (Casa Civil), em seu gabinete no CCBB, em Brasília
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Candidata à Presidência em
2010, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) diz que o Estado mínimo é uma "tese falida",
que "só os tupiniquins" aplicam. Em sua opinião, quem defendia que o mercado solucionava tudo "está contra a corrente" e "contra a realidade".
Principal auxiliar do presidente Lula, escolhida por ele
para ser a candidata à sua sucessão, Dilma sai em defesa do
chefe diante das críticas de que
ele adotou uma política "intervencionista e estatizante".
"Os empresários podem falar
o que quiserem, que é democrático. O presidente da República
não pode dar uma opiniãozinha
que é intervencionista. Diríamos assim, não é justo", protestou Dilma, num tom exaltado,
em entrevista à Folha, na última quinta-feira, em seu gabinete, todo ornamentado com
imagens de santos.
Bem-humorada, a ministra
afirmou não aceitar a pecha de
"intervencionista", mas não escondeu o sorriso ao dizer que
"aceita" e "concorda" que o governo Lula seja classificado de
nacionalista e estatizante.
"Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota" ou
"que história é essa de nacionalista ser xingamento?" foram
algumas de suas frases, sinalizando o tom que os petistas devem usar na disputa de 2010.
Apesar de refutar a classificação de intervencionista, ela,
a exemplo de Lula, cobra da Vale, uma empresa privada, maior
compromisso com o país. "É
uma empresa privada delicada", que não pode sair por aí
"explorando recursos naturais
do país e não devolver nada".
FOLHA - O ex-presidente FHC disse
que é preciso fazer um país mais
aberto, não ter uma pessoa só que
manda, porque hoje parece que o
Brasil depende de um homem só. O
que a sra. acha?
DILMA ROUSSEFF - A quem ele está se referindo?
FOLHA - Ao presidente Lula.
DILMA - Se você acha isso, eu
não tenho certeza. Se tem um
presidente democrático, é o
presidente Lula. Agora, ele jamais abrirá mão de suas obrigações. Entre as obrigações está
mandar algumas coisas. Por
exemplo, fazer o Bolsa Família.
Ele mandou que não fizéssemos aventura nenhuma com a
taxa de inflação.
FOLHA - A declaração de FHC embute a análise de que no governo Lula houve uma maior intervenção na
economia, nas estatais, na vida das
empresas.
DILMA - Tinha gente torcendo
para ficarmos de braços cruzados na crise. Diziam: "o governo Lula sempre deu certo, mas
nunca enfrentou uma crise internacional". Apareceu a maior
crise dos últimos tempos, que
estamos superando.
Eu acho que quem defendia
que o mercado solucionava tudo, o mercado provê, é capaz de
legislar e garantir, está contra a
corrente e contra a realidade. O
que se viu no mundo nos últimos tempos é que a tese do Estado mínimo é uma tese falida,
ninguém aplica, só os tupiniquins. Nós somos extremamente a favor do Estado que induz o crescimento, o desenvolvimento, que planeja.
FOLHA - Pela declaração do ex-presidente, a sra. avalia que eles não teriam seguido a mesma receita de
vocês nessa crise?
DILMA - Eu não gosto de polemizar com um presidente, porque ele tem outro patamar.
Agora, os que apostam e ficam
numa discussão, que, além de
enfadonha, é estéril, de que há
uma oposição entre iniciativa
privada e governo, gostam de
discussão fundamentalista.
É primário ficar nessa discussão de que o governo, para
não ser chamado de intervencionista, seja um governo omisso, de braços cruzados, que não
se interessa por resolver as
questões da pobreza nem do
desenvolvimento econômico.
FOLHA - Essa maior interferência
do governo não levou a uma visão
estatizante da economia e a um discurso eleitoreiro, como no pré-sal?
DILMA - As acusações são eleitoreiro, estatizante, intervencionista e nacionalista. Tem algumas que a gente aceita. Nacionalista a gente aceita. Esse
país não pode ter vergonha
mais de ser patriota. Eu não vi
um americano ter vergonha de
ser patriota, nunca vi um francês. Que história é essa de nacionalista ser xingamento?
FOLHA - Nacionalista vocês aceitam. E estatizante?
DILMA - Se é o aumento da capacidade de planejar o país, de
ter parcerias com o setor privado, de o Estado ter se tornado o
indutor do desenvolvimento,
concordo.
FOLHA - Intervencionista?
DILMA - Não somos.
FOLHA - Mas eleitoreiro?
DILMA - Não. Sabemos que
quem não tem projeto vai achar
tudo eleitoreiro.
FOLHA - Quando o presidente pressiona um dirigente de empresa privada, como Roger Agnelli, da Vale,
não é uma ingerência indevida?
DILMA - Você acha certo exportar minério de ferro e importar
produtos siderúrgicos? Ela é
uma empresa privada delicada.
Porque ela está explorando recursos naturais do Brasil. Você
não pode sair por aí explorando
os recursos naturais e não devolver nada. O presidente ficou
chocado com empresas que demitiram bastante na crise sem
ter consideração pelos empregos do país.
FOLHA - Isso representa prejuízo
para uma empresa privada.
DILMA - Não se trata de prejuízo, se trata do tamanho do lucro, a mesma coisa da Petrobras. O que vale para a Petrobras vale para a Vale. A preocupação com a riqueza nacional é
uma obrigação do governo. Eu
não acho que o presidente foi lá
interferir na Vale. O presidente
manifestou, assim como muitas vezes os empresários manifestam, seu descontentamento,
e não implica uma interferência, a gente tem de democraticamente aceitar as observações, ser capaz inclusive de
aprender com críticas. Por que
o presidente não pode falar?
FOLHA - A sra. acha que uma empresa privada tem de abrir mão de
uma parte do lucro...
DILMA - Não estou discutindo
isso. Estou discutindo é que ela,
assim como a Petrobras, nem
sempre pode. Se a Petrobras
quiser o lucro dela só, vai fazer
uma coisa monotônica.
FOLHA - O presidente pensou em
tirar o Agnelli da Vale?
DILMA - Que eu saiba não. Ele
não tem poder para isso. Como
você disse, é uma empresa privada. O que ele fez foi externar
seu descontentamento com a
forma que demitiram gente.
Ele não fez só para a Vale. Eu
acho interessante essa história,
os empresários podem falar o
que quiserem que é democrático, o presidente não pode dar
uma opiniãozinha que é intervencionista. Isso, diríamos assim, não é justo.
FOLHA - Durante o governo houve
um grande processo de fusões de
empresas no Brasil. Deu-se por um
estímulo direto do governo Lula?
DILMA - São sinais dos tempos.
Não tem nada de artificial. Ninguém falou "eu vou ali criar
uma empresa fortíssima". As
empresas estavam maduras. As
que não se fundiram aqui compraram coisas lá fora.
FOLHA - A sra. defende um Banco
Central independente, por lei?
DILMA - Não acho que seja necessário isso. Não vejo nenhum
motivo para criar esse tipo de
problema agora no Brasil, abrir
esse tipo de discussão.
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