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Envolvidos em escândalos tentarão reeleição
83% dos deputados e senadores citados recentemente em casos de irregularidade disputarão eleições ou ficarão nos cargos
Dos 145 parlamentares
ligados a episódios como a
farra das passagens e os
atos secretos, nenhum deles
sofreu punição até agora
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo menos 83% dos deputados e senadores envolvidos em
algum tipo de escândalo no ano
passado tentarão voltar à vida
pública nas eleições de outubro
ou permanecem em seus cargos por mais alguns anos.
A Folha levantou 145 nomes,
ou 24,4% de um total de 594
congressistas (81 senadores e
513 deputados), citados diretamente em casos como o da farra das passagens, o uso irregular da verba indenizatória e os
atos secretos do Senado, entre
outros. Nenhum parlamentar
sofreu punição até agora.
Dos 145 deputados e senadores, 87, no mínimo, querem se
reeleger para os mesmos cargos. Outros 18 tentam se candidatar para postos mais altos.
É o caso de Jader Barbalho
(PMDB), que é pré-candidato
ao governo do Pará. Conforme
a Folha revelou em novembro,
ele foi um dos deputados federais que usou recurso destinado ao suporte de suas atividades legislativas da chamada
verba indenizatória para custear gastos da campanha em
2008. O assunto ainda não foi
apurado pela Câmara.
O peemedebista não foi localizado pela Folha. Seu gabinete
disse, na época, que os veículos
alugados com o dinheiro não
foram usados em campanha.
Outros 16 senadores citados
em casos de irregularidades
têm mandato até 2015. O próprio presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que viveu uma crise no ano passado,
após a revelação da existência
de atos secretos que envolviam,
inclusive, seus familiares, permanece como senador pelo
menos por mais quatro anos.
A percentagem de congressistas candidatos deve ser ainda maior, já que 18 dos envolvidos em escândalos não foram
localizados pela Folha ou disseram não ter se decidido. Alguns dos que disseram que não
pretendem se candidatar podem mudar de ideia.
O deputado e atual secretário de Transportes do DF, Alberto Fraga (DEM), afirma não
ter a intenção de se candidatar,
mas não nega que possa recuar
dessa posição. Ele alega estar
desanimado por causa da citação de seus colegas nas denúncias da existência do mensalão
do DEM em Brasília.
Seu nome não foi envolvido
no caso, mas em março do ano
passado, a Folha revelou que
Fraga pagava o salário da empregada doméstica de sua casa
com recursos da Câmara. A
funcionária foi exonerada da
folha de pagamento, no entanto, com ele, nada aconteceu.
Os dois pré-candidatos a vice
na chapa da ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil) à Presidência também tiveram seus
nomes citados em casos de irregularidades em 2009. São
eles o atual presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e o senador e atual ministro das Comunicações, Hélio
Costa (PMDB-MG).
O primeiro foi acusado por
Durval Barbosa, empresário do
DF que denunciou o mensalão
do DEM, de ter sido beneficiado no caso. Já o segundo, além
de usar a gráfica do Senado para benefício próprio, mantinha
o motorista da sua família em
Belo Horizonte como funcionário do Congresso.
Apesar do grande número de
envolvidos em irregularidades
na atual legislatura, o professor
de ciências políticas da Iuperj
(Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro),
Jairo Nicolau, diz que os casos
não terão tanto reflexo nas urnas como na última legislatura
-quando a grande maioria dos
envolvidos no escândalo dos
sanguessugas (máfia que desviava dinheiro para a compra
de ambulâncias, descoberta em
2006) não retornou à Câmara.
"Uma das hipóteses plausível
é que quanto mais próximo do
pleito [o escândalo acontece]
mais efeito na eleição", afirma
ele. "Além disso, a maioria dos
casos de 2009 foi de caráter administrativo interno do Congresso. E esses são mais fácies
de serem interpretados na cultura de patronagem do brasileiro", avalia o professor.
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