São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2007

Miniconto

Zé Pestana
Por Carlos Gomes

Certa noite, o pai de Maria Clara avisou-lhe que já estava na hora de dormir cantarolando assim:
- Lá, lá, lá, hora de dormir...
Mas a filha protestou e cantarolou em resposta:
- Lá, lá, lá, não está na hora de jeito nenhum.
Então, surgiu a mãe para ajudá-la a vestir o pijama, a escovar os dentes e cabelos. Depois, pai e mãe sentaram-se ao lado de Clara, que continuava a reclamar:
- Eu não quero dormir! Estou sem sono! Eu quero brincar mais...
- Vou chamar o seu amigo Zé Pestana! - disse o pai sorrindo.
- Quem é esse aí? - quis saber a menina.
- Ah, filha, é muito simples. Antes de a criança nascer, o pai e a mãe vão até à casa do pássaro encantado. Lá eles contam à criatura que terão um filho e que, portanto, vão precisar de um Zé Pestana. O pássaro encantado pede que pais escolham uma das cores do arco íris. Depois de escolhida a cor, o pássaro voa até o meio da floresta, onde fica o Lago do Sono, pois é lá que mora Urubá, a tartaruga mágica. O pássaro encantado diz qual é a cor, e Urubá mergulha lá no fundo do lago retirando o barro da coloração escolhida. E, com esse barro, começa fazer o Zé Pestana. Primeiro faz duas bolinhas: uma maior, que será a barriga, e outra menor, que será a cabeça. Depois, faz quatro rolinhos, que serão os braços e as pernas. Com uma pena, desenha a boca, o nariz, as orelhas e os olhos. Entrega o boneco para ao pássaro encantado que voa até o céu, e o deixa com o guardião do sono. Toda noite, o guardião joga uma cordinha aqui para a terra, e o Zé Pestana vem descendo, até sentar-se em cima da pestana da criança. Como ele é gordinho, os olhos da criança ficam pesados, fecham-se e o sono chega. Quando o Sol aparece, o Zé Pestana sobe pela cordinha e volta lá para o céu. Pela manhã, assim que a criança acorda, precisa lavar o rosto, porque o Zé Pestana é comilão e sempre deixa cair no canto dos olhos uns restinhos de comida.

Carlos Gomes nasceu em Escada (PE), em 1949. Radialista e escritor, é formado em artes plásticas. O miniconto acima é parte do livro "Contos de Aconchego", que será publicado pela Edições SM no segundo semestre de 2007.

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