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19/02/2011 - 03h31

Gilberto Dimenstein: Dura com os outros e com ela mesma

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GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Um aspecto da Folha me incomoda: sua tendência de buscar exageradamente o lado sombrio das pessoas, dos projetos e das instituições. Muitas vezes se mistura o saudável criticismo com uma atitude um tanto ranzinza.

Meu caso com a Folha: 90 colunistas comentam ligação com o jornal
Time de colunistas incluiu Lobato, Oswald e Francis

Andre Porto/Folha Imagem
O jornalista e colunista Gilberto Dimenstein
O jornalista e colunista Gilberto Dimenstein

Um das razões do sucesso do jornal está na sua independência e na sua capacidade de atacar tudo e todos. A irritação do PT com a Folha só é comparável ao aborrecimento do PSDB, quanto estava na Presidência.

A disposição para briga e a necessidade de reforçar sempre a independência trouxeram e trazem benefícios não só para a imagem do jornal mas também para o país. Não há um dia que se não veicule algum tipo de denúncia.

Existe, porém, efeito colateral: a dificuldade e a morosidade em perceber o que vai indo bem e, com isso, não captar uma tendência que poderia nos colocar à frente. O leitor deixa de receber rapidamente um ângulo editorialmente valioso.

O Brasil está longe de ser uma nação civilizada, mas tem exibido uma evolução constante e, em alguns aspectos, notável. Não é raro a Folha dar a notícia de um fato positivo depois que os números já são óbvios. Se existe uma melhoria e todos reconhecem é porque são produzidas mais soluções do que problemas. Cobrimos com a mesma garra tantos as soluções como os problemas? Soluções são menos importantes do que problemas?

O valor de uma notícia não está em ser baseada num fato bom ou ruim, mas no impacto na vida das pessoas. É tão arriscado e importante criticar como elogiar.

Os ataques não são pessoais. A Folha não é dura apenas com os outros, é com ela própria. É permanente o grau de insatisfação da direção com o produto. O que faz com que as críticas sejam, em geral, ouvidas sem melindres. Um dos orgulhos de nossa história é manter um ombudsman independente que, com frequência, irrita a Redação.

Essa abertura ao novo, a permanente inquietação, é a base da biodiversidade da Redação e de seus colaboradores. Talvez por isso ainda esteja na Folha, que, para mim, sempre foram várias "Folhas".

Comecei em Brasília, fui para Nova York, depois São Paulo e, agora, estou em Cambridge (EUA), onde desenvolvo um projeto em Harvard com foco em jornalismo comunitário e educação. Em cada fase, eu experimentei um novo olhar, o que se traduziu em algumas apostas certas, outras erradas.

Goste-se ou não da Folha, se o jornal chegou aos 90 anos é porque acertou mais do que errou, encontrando soluções para os problemas. Nunca parou para envelhecer. Isso significa que gerou mais soluções que problemas --essa, portanto, é a nossa melhor notícia.

 

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