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11/12/2010

Voar e parar de fumar, tudo a ver

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Voar, voar muito, foi uma das principais razões que me levaram a parar de fumar, faz já dez anos.

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Explico: um dia, estava viajando de São Paulo para Seul, a capital sul-coreana, uma loucura que não recomendo a ninguém se for para fazer sem uma noite de descanso, pelo menos, em alguma escala em qualquer ponto do globo.

A minha escala era em Los Angeles, mas só para troca de avião. Duas horas ou menos de espera.

Fui para o fumódromo, um inóspito bunker no subsolo, escuro, feio, nenhum parentesco com o glamour que se atribui à cidade.

Havia meia dúzia de, digamos, companheiros, quase todos orientais (não sei se há dados, mas parece que fumam mais do que qualquer outra marca de ser humano).

Comecei a fumar quando o altofalante chama para o embarque de um voo da British Airways, rumo a Londres. O caminho até o avião passava por "nosso" bunker, que, de repente, foi invadido por uma fileira de senhorinhas bem "british", com seus vestidinhos de bolinhas, seus cabelos arrumadinhos, a maioria já cor de neve.

Quando passavam pelos viciados, nos dirigiam olhares assassinos, como se tivéssemos sido flagrados roubando o dinheiro da sacola do ceguinho que pedia esmolas no aeroporto -e que nem existia, na verdade. Mas era isso que os olhares me faziam sentir.

Decidi que não havia lógica em me sentir um marginal da pior espécie só por causa de um cilindro inanimado.

Levei ainda um punhadinho de anos para parar, mas, até hoje, nas raras vezes em que vem a vontade de acender um cigarro, me vêm à cabeça aquelas senhorinhas britânicas, e eu desisto de novo do que nem recomecei.

Como minha mais recente viagem foi exatamente de Londres para Seul, no mês passado, para cobrir a cúpula do G20, era inevitável lembrar das senhoras, vigilantes do fumo. Mas era absolutamente inútil procurar qualquer sinal de tabaco, cigarro e vigilantes, em qualquer aeroporto do mundo. Não há mais fumódromos internos, pelo menos nos terminais que frequento regularmente, e os viciados têm que fumar lá fora, sujeitos a condições eventualmente mais ásperas do que a do bunker de Los Angeles.

Livrei-me desse problema, pelo que agradeço ao exército anônimo de velhinhas britânicas que nem sabem o bem que me fizeram.

CLÓVIS ROSSI é colunista da Folha. Ex-fumante, autor de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo", viaja em média sete vezes por ano ao exterior.

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