Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
25/05/2007 - 19h08

Hizbollah se opõe a ajuda americana no Líbano

Publicidade

da Folha Online

O grupo radical xiita Hizbollah, que lidera a oposição política no Líbano, expressou oposição nesta sexta-feira à ajuda que os Estados Unidos ofereceram ao país no confronto com militantes acusados de ligação com a rede terrorista Al Qaeda. Os EUA enviaram hoje armamento e suprimentos para o Líbano, após um pedido do governo do premiê Fouad Siniora, que afirmou ter a intenção de "eliminar" os militantes islâmicos do Fatah al Islam.

Mohamed Azakir/Reuters
Avião jordaniano carregando armas e munições dos EUA aterrissa em Beirute
Avião jordaniano carregando armas e munições dos EUA aterrissa em Beirute

O Exército do Líbano combate desde o último domingo o Fatah al Islam no campo de refugiados palestinos Nahr el Bared, em Trípoli (norte). De acordo com a agência Associated Press, na tarde desta sexta-feira um total de cinco novos aviões de transporte militar levaram material de apoio ao aeroporto de Beirute, um deles da Força Aérea dos EUA.

O Hizbollah alertou que o Líbano está sendo arrastado para a luta dos americanos contra a Al Qaeda, e que isso desestabilizará o país. Em um comunicado na TV, o líder do grupo xiita, Hassan Nasrallah, pediu uma solução negociada do conflito e alertou o Exército contra a continuidade dos ataques ao campo de Nahr el Bared para eliminar os militantes.

"É do nosso interesse começar um conflito contra a Al Qaeda no Líbano e assim atrair membros da rede de todo o mundo para nosso país?", questionou Nasrallah.

Apesar da resistência do líder do Hizbollah não ser suficiente para impedir os confrontos, ela pode criar problemas para o governo, que está em campanha aberta contra o Fatah al Islam. As palavras de Nasrallah carregam importante peso político no Líbano.

Além disso, a oposição demonstra também que o governo continua em crise interna. O Hizbollah é considerado um grupo terrorista pelos Estados Unidos. No Líbano, não é visto como uma entidade terrorista, mas como um grupo de resistência contra a invasão israelense ao país, em 1982. O grupo também é um dos principais partidos libaneses, realiza ações humanitárias e possui uma rede de escolas e hospitais.

Al Qaeda

Com ou sem a ajuda dos EUA, o Líbano pode já estar na mira da Al Qaeda. Um grupo que afirma ser ligado à rede terrorista ameaçou nesta sexta-feira bombardear o país e atacar cristãos libaneses se Beirute continuar a cercar o campo de Nahr el Bared.

O grupo, chamado Al Qaeda do Al Sham (nome arábico para a região normalmente associada a Síria, Líbano e Jordânia), afirmou que "nenhum cristão estará seguro no Líbano depois de hoje. Quem atingir será atingido".

A mensagem foi atribuída ao líder militar do grupo em um vídeo publicado na internet e recuperado pelo instituto Site, baseado em Washington, que monitora postagens de grupos radicais.

"O que queremos é que vocês ordenem ao Exército cristão libanês que retire seus homens do entorno de todos os campos palestinos, e do Nahr el Bared em particular", afirmou o narrador no vídeo, que tem duração de sete minutos.

"Se vocês não pararem", continua a mensagem, "vamos arrancar seus corações com bombas". Não se sabe se o grupo já executou algum ataque antes. A autenticidade da mensagem não pôde ser confirmada independentemente.

De acordo com dados da CIA (agência de inteligência americana), 39% dos libaneses são cristãos. É o segundo maior grupo, logo após os 59,7% de muçulmanos do país.

Armamento

De acordo com a agência Associated Press, na tarde desta sexta-feira um total de cinco novos aviões de transporte militar chegaram ao aeroporto de Beirute.

A chegada dos aviões --um da Força Aérea dos Estados Unidos, dois dos Emirados Árabes Unidos e dois da Jordânia-- foi narrada por várias testemunhas, mas o Exército libanês se negou a comentar o assunto.

Os EUA afirmam que já havia um acordo para enviar ajuda militar ao Líbano antes do início dos combates entre o Exército libanês e membros do Fatah al Islam, que teve início no domingo (20). O combate já matou ao menos 81 pessoas e provocou a fuga de milhares.

Países árabes também prometeram enviar ajuda. Os EUA declararam apoio ao governo libanês, dizendo que o Fatah al Islam é um grupo de "extremistas violentos".

Tiroteio

Ontem, o grupo radical trocou tiros com o Exército por cerca de meia hora. Confrontos isolados continuaram durante a madrugada, mas a calma foi restaurada hoje.

Nesta sexta-feira, soldados libaneses extras foram destacados para a região de Nahr al Bared.

Grande parte dos cerca de 40 mil membros do Exército está destacada ao longo da fronteira com Israel, no sul do Líbano, com a Síria (ao norte e leste) e dentro e ao redor de Beirute.

Muitas unidades que estavam em Beirute para tentar amenizar as tensões sectárias em meio à crise política deixaram suas posições e seguiram para o norte, segundo testemunhas.

Situação humanitária

Segundo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA, em inglês), cerca de 15 mil palestinos ainda estão no campo, que abriga um total de 40 mil.

"A situação humanitária em Nahr al Bared se deteriora", disse a porta-voz da agência, Hoda Elturk. "Nossos caminhões com comida e água estão prontos, mas nossas equipes não podem entrar porque não é seguro", afirmou ela.

Ben Curtis/AP
Soldados libaneses passam por região de campo de Nahr el Bared em veículo militar
Soldados libaneses passam por região de campo de Nahr el Bared em veículo militar

O Ministério da Defesa libanês estima que cerca de 50 ou 60 membros do Fatah al Islam morreram nos confrontos que, segundo o governo, tiveram início após ataques deliberados do grupo contra soldados libanesas. Os radicais negam, dizendo que agiram em auto-defesa.

O Fatah al Islam é acusado de manter vínculos com a rede terrorista Al Qaeda. Autoridades libanesas alegam ter detido integrantes sauditas, argelinos, tunisianos e sírios do grupo.

O Líbano acusa a Síria de apoiar o grupo, acusação que é negada pelo governo de Damasco.

Combate ao terror

O premiê libanês, Fouad Siniora, afirmou nesta quinta-feira que irá erradicar o terrorismo. Em discurso exibido na TV libanesa, Siniora afirmou que o Fatah al Islam é uma "organização terrorista", e acusou o grupo de tentar usar o "sofrimento e a luta do povo palestino".

"Nós trabalharemos para erradicar e derrotar o terrorismo, mas protegeremos nossos irmãos nos campos", afirmou Siniora, reforçando que os combates não se dirigem aos cerca de 400 mil palestinos que vivem em todo o Líbano.

Suas declarações ocorrem um dia depois que o ministro da Defesa libanês, Elias Murr, fez um ultimato ao Fatah al Islam, dizendo que eles deveriam se render ao Exército.

"Preparações estão sendo feitas com seriedade para pôr um fim a esta situação", disse Murr nesta quarta-feira. "O Exército não vai negociar um grupo de terroristas e criminosos. Seu destino é a prisão ou, se eles resistirem, a morte", completou.

Campos de refugiados

O Líbano possui 12 campos de refugiados, onde vivem milhares de palestinos que enfrentam problemas como a pobreza e a superlotação.

Hussein Malla/AP
Civis palestinos deixam campo de refugiados em caminhão para fugir de violência no Líbano
Civis palestinos deixam campo de refugiados em caminhão para fugir de violência no Líbano

O Exército libanês não tem permissão para entrar nos campos, segundo um acordo com a Autoridade Nacional Palestina (ANP) que data de 1969.

Os atuais confrontos, os piores enfrentamentos internos desde o final da Guerra Civil (1975-1990), mataram ao menos 81 pessoas-- 22 membros do grupo radical, 32 soldados e 27 civis--, de acordo com a agência de notícias Reuters.

Os palestinos que deixaram suas casas nesta quarta-feira descreveram cenas de violência. "Todas as casas foram destruídas. Estamos indo embora e não sabemos o que será de nós", disse Nizar Sharaf, 35, à agência Reuters. Ele carregava no colo o filho de quatro anos.

Com Reuters e Associated Press

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página