Livraria da Folha

 
22/11/2009 - 17h40

BALADA LITERÁRIA: Chico Alvim percorre das MG do passado à poesia marginal de 70

PAULA DUME
Colaboração para a Livraria da Folha

Uma dentadura pendurada na parede e uma rapadura. Os dois objetos compõem uma Minas Gerais do passado, assim descrita e assumida em público pelo escritor mineiro Francisco Alvim, durante a 4ª Balada Literária. Com início às 17h30, a conversa entre Chico Alvim, como é conhecido, e a plateia foi mediada por Ivam Marques, professor da USP e criador do programa televisivo "Entrelinhas", no auditório da Biblioteca Alceu Amoroso Lima, zona oeste de São Paulo, no último sábado (21). Questionado por Marques sobre a qual Minas pertencia, Alvim reportou-se a uma "Minas mais internamente do que externamente". O grupo "Urros Masculinos", de Recife, fez uma intervenção antes do início do debate.

Fernanda Grigolin
Ivam Marques entrevista o poeta mineiro Chico Alvim durante a quarta edição da Balada Literária, no último sábado, em biblioteca
Ivam Marques entrevista o poeta mineiro Chico Alvim durante a quarta edição da Balada Literária, no último sábado, em biblioteca

O mediador iniciou o bate-papo com o poeta citando duas Minas: a de ferro, de Carlos Drummond de Andrade, e a de barro, de João Guimarães Rosa. Alvim, que nasceu em Araxá em 1938, disse --em tom de sátira-- que os mineiros são invejosos, rancorosos, odiosos e odientos. O poeta comentou sobre suas referências, como as leituras de Murilo Mendes e Pedro Nava, este com descrições em "laser moral que entra em Minas Gerais". Marques trouxe à tona a importância do modernismo na formação literária de Alvim. "Sinto-me como um elemento dessa substância completa", justificou o poeta. Ele ainda citou a chamada "angústia da influência", referindo-se aos escritos do norte-americano Harold Bloom. O mineiro também comentou sobre uma viagem que fez à Grécia e como sentiu que o homem estava ali.

Alvim contou um fato curioso. Certa vez, sua esposa lhe mostrou a prova de uma menina chamada Ana Cristina César. Anos depois, a mesma menina seria considerada uma das maiores poetas da literatura brasileira. Alvim ressaltou a inteligência prodigiosa daquela garota, constatada por meio de sua prova escolar. "Ela foi produto de um sistema escolar", afirmou. Ele envolveu-se com os poetas marginais da década de 1970. Segundo o poeta mineiro, eles sabiam olhar para o outro lado. Por isso, a identificação e imersão no contato com eles. "Eles defenderam um espaço de vida", pontuou.

A plateia atentou para os versos lidos pelo mineiro. Entre os ouvintes, estava o secretário municipal de cultura, Carlos Augusto Calil. Em entrevista à Livraria da Folha, Calil disse ser um privilégio ter Chico Alvim em São Paulo, "é uma ocasião muito rara". "Sou amigo dele de muito tempo", completou o secretário. Além de Alvim, atualmente Calil está lendo a revista "Serrote", do Instituto Moreira Salles e a obra "Um Enigma Chamado Brasil" da qual participou, mas não está relendo sua parte porque não é "cabotino", como afirmou. Calil disse que a secretaria é parceira da Balada há muito anos e que dá muito certo. "Eu reclamo um pouco que é no feriado, no sentido de que não é todo mundo que pode participar, mas eles já estabeleceram essa data", explicou.

 
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