Retratos da China
05/04/2005
da Folha de S.Paulo, em Pequim
Os grilos e seus parentes próximos estão entre os animais de estimação mais cultuados da China. Guardados em pequenas gaiolas ou caixinhas que podem ser levadas no bolso da roupa, eles são valorizados pelo som que produzem e, alguns, por suas habilidades como lutadores. Enquanto no Brasil há luta de galos, na China o quente são as lutas de grilos.
A cultura em torno dos pequenos insetos surgiu há pouco mais de 1.000 anos e hoje se mantém em centenas de feiras para venda de grilos e gafanhotos, nas quais também são oferecidas gaiolas e caixas para os animais. Ainda há sites na internet que dão orientação sobre alimentação, saúde e fortalecimento das habilidades de luta dos grilos.
O maior site do gênero, www.xishuai.net, estima que há cerca de 10 milhões de chineses que criam grilos ou gafanhotos. É comum entrar em lojas de Pequim, escutar o canto do inseto e descobri-lo em uma pequena gaiola, em meio aos objetos expostos para venda. Alguns chineses também levam os insetos em gaiolas para a rua, no bolso da roupa ou na porta do carro.
No início do filme "O Último Imperador", de Bernardo Bertolucci, o recém-proclamado imperado, Pu Yi, ganha um grilo de um dos homens que lhe fazem reverência na Cidade Proibida. No fim do filme, quase 60 anos depois, o ex-impedor retira debaixo do que um dia foi seu trono uma gaiola com o inseto. Apesar de lírica, a imagem é irreal, já que os grilos vivem de 5 a 8 meses.
Pequim tem uma feira de animais com uma seção dedicada a grilos, gafanhotos e congêneres, na qual a trilha sonora é o canto incessante dos insetos. O barulho que eles produzem é a principal causa de atração dos chineses pelos animais e o ideograma que significa grilo é formado pelos sinais "inseto" e "música".
A luta é outra razão da popularidade dos animaizinhos. Alguns chineses, especialmente mais velhos, compram grilos lutadores e os treinam para enfrentar insetos de seus amigos.
Os grilos machos se atacam quando colocados no mesmo ambiente --neste caso, uma caixa de pequenas dimensões, o que reduz consideravelmente a platéia do espetáculo. A luta não é proibida, mas apostas em dinheiro, sim. No fim do ano passado, a polícia de Xangai "estourou" um local de luta a dinheiro onde havia cerca de 200 jogadores e US$ 220 mil em apostas. Trinta e seis pessoas terminaram presas.
O apaixonado pela luta de grilos deve estar disposto a pagar altos preços pelos insetos mais fortes. Há grilos que custam até US$ 1.000 (R$ 2.800)--e pessoas dispostas a desembolsar esse valor. Mas, em geral, os preços são bem mais baixos e insetos que apenas cantam podem ser comprados por menos de US$ 10 (R$ 28).
Leia mais
Isto é China
Saiba mais sobre a história da China
Fique por dentro da economia do país
Veja fotos feitas pela jornalista Claudia Trevisan
Entenda a geografia da China
Conheça aspectos da cultura chinesa
Os chineses no Brasil
Saiba mais sobre as curiosidades a respeito da China
Enquanto no Brasil há luta de galos, na China o quente são as lutas de grilos
CLÁUDIA TREVISANda Folha de S.Paulo, em Pequim
Os grilos e seus parentes próximos estão entre os animais de estimação mais cultuados da China. Guardados em pequenas gaiolas ou caixinhas que podem ser levadas no bolso da roupa, eles são valorizados pelo som que produzem e, alguns, por suas habilidades como lutadores. Enquanto no Brasil há luta de galos, na China o quente são as lutas de grilos.
A cultura em torno dos pequenos insetos surgiu há pouco mais de 1.000 anos e hoje se mantém em centenas de feiras para venda de grilos e gafanhotos, nas quais também são oferecidas gaiolas e caixas para os animais. Ainda há sites na internet que dão orientação sobre alimentação, saúde e fortalecimento das habilidades de luta dos grilos.
| Cláudia Trevisan/Folha Imagem |
 |
| Comprador escolhe gafanhoto em feira de animais em Pequim |
No início do filme "O Último Imperador", de Bernardo Bertolucci, o recém-proclamado imperado, Pu Yi, ganha um grilo de um dos homens que lhe fazem reverência na Cidade Proibida. No fim do filme, quase 60 anos depois, o ex-impedor retira debaixo do que um dia foi seu trono uma gaiola com o inseto. Apesar de lírica, a imagem é irreal, já que os grilos vivem de 5 a 8 meses.
Pequim tem uma feira de animais com uma seção dedicada a grilos, gafanhotos e congêneres, na qual a trilha sonora é o canto incessante dos insetos. O barulho que eles produzem é a principal causa de atração dos chineses pelos animais e o ideograma que significa grilo é formado pelos sinais "inseto" e "música".
A luta é outra razão da popularidade dos animaizinhos. Alguns chineses, especialmente mais velhos, compram grilos lutadores e os treinam para enfrentar insetos de seus amigos.
Os grilos machos se atacam quando colocados no mesmo ambiente --neste caso, uma caixa de pequenas dimensões, o que reduz consideravelmente a platéia do espetáculo. A luta não é proibida, mas apostas em dinheiro, sim. No fim do ano passado, a polícia de Xangai "estourou" um local de luta a dinheiro onde havia cerca de 200 jogadores e US$ 220 mil em apostas. Trinta e seis pessoas terminaram presas.
O apaixonado pela luta de grilos deve estar disposto a pagar altos preços pelos insetos mais fortes. Há grilos que custam até US$ 1.000 (R$ 2.800)--e pessoas dispostas a desembolsar esse valor. Mas, em geral, os preços são bem mais baixos e insetos que apenas cantam podem ser comprados por menos de US$ 10 (R$ 28).
Leia mais
|
Claudia Trevisan, colunista da Folha Online, foi correspondente da Folha de S.Paulo em Pequim até abril de 2005. Atualmente é repórter da editoria de Brasil. Também trabalhou em Buenos Aires como correspondente do jornal Valor Econômico. E-mail: ctrevisan@folhasp.com.br |
