Tecel da educao
Repetir de ano foi a primeira pequena tragdia na vida de Cybele Amado. Aos sete anos, a sobrinha-neta de Jorge Amado no conseguiu acompanhar o desenvolvimento de sua turma.
Para descobrir o que havia acontecido, a menina contou com uma rede, formada pelos pais, uma contadora de histrias e um piloto da Aeronutica, e uma terapeuta.
"'Queremos uma mudana social', diz vencedor do Empreendedor do Futuro"
"Sergio Petrilli ganha Escolha do Leitor com 42% dos votos"
Foi dessa forma que descobriu que o mtodo de alfabetizao usado em sua escola, o Casinha Feliz, baseado em figuras e fonemas, havia se tornado, para ela, uma "casinha infeliz". Cybele, hoje com 45 anos, entendeu naquela poca que trocava letras.
Conseguiu reverter o problema. Mais do que isso, revolucionou seu breve histrico escolar -de aluna repetente no comeo do ensino fundamental, passou a lder de classe ainda antes do incio do ensino mdio.
Decidiu fazer o papel que outras pessoas haviam protagonizado em sua vida anos antes: aos 13 anos de idade, comeou a auxiliar colegas de escola que tinham dificuldade em matemtica.
Na adolescncia, distribua mingau nas ruas e visitava orfanatos e asilos para levar carinho a crianas e idosos.
"Eu tinha um amor gigantesco dentro de mim e uma vontade imensa de mudar tudo o que estava a minha volta, mas no sabia o que fazer com isso", lembra Cybele.
Combinava essas atividades com outras de suas paixes -do grupo de teatro da juventude esprita, as aulas de bal clssico e dana contempornea e a leitura.
Aos 17 anos, mais uma atividade entrou para sua agenda. A jovem havia sido aprovada no vestibular para a faculdade de pedagogia.
Foi logo no fim do curso que vivenciou sua segunda pequena tragdia -e justamente em um momento de suposta alegria, o Carnaval.
Decidida a fugir da folia da capital baiana, foi para a Chapada Diamantina, no interior do Estado. Mas l, na vila de Caet-Au, no Vale do Capo, distrito de Palmeiras, no encontrou a paz que desejava.
"Na hora em que entrei em uma escola pblica, fiquei em choque", diz ela, sobre a precariedade das condies do local. Na volta a Salvador, chorou o caminho inteiro.
FORA DA CAIXA
A experincia foi to marcante que, uma semana depois, quando o governo do Estado abriu concurso pblico para a contratao de professores na Chapada Diamantina, ela se inscreveu.
Quando foi aprovada, aos 21 anos, mudou-se para Caet-Au levando consigo apenas uma mala de roupas e trs caixas de livros, arrecadados em uma campanha que mobilizou em Salvador.
Determinada a que os alunos aprendessem a ler e a escrever, comeou como professora de lngua portuguesa, mesmo se sentindo ainda despreparada.
Com a escassez de recursos -a escola no tinha nem papel sulfite-, transgrediu o currculo e levou as crianas para aprender fora da sala de aula. "Elas tm que ser menos passivas e mais ativas na aprendizagem", diz Cybele.
A mudana para a Chapada Diamantina tambm alterou sua vida pessoal.
Ao chegar, ficou doente e foi consultar-se com o nico mdico da vila do Capo, o naturologista Aureo Augusto Carib de Azevedo, 59. Casaram-se e ela assumiu como seus os dois filhos dele.
"No que eu no queria ter filhos, eu no pensava nisso. Quero cuidar de quem j est no mundo."
Para isso, foi aprimorar-se. Fez ps-graduao em psicopedagogia e, em paralelo ao trabalho na escola, atendia voluntariamente crianas com dificuldade de aprender.
O fim dos anos 1990 foi intenso. Nesse perodo, com a Associao de Pais, Educadores e Agricultores de Caet-Au, iniciou um programa de auxlio a professores
Tambm criou, com 12 secretrios municipais de educao e associaes de moradores locais, o Projeto Chapada.
Em 2005, fundou o Icep (Instituto Chapada de Educao e Pesquisa), que contribui para a melhoria da qualidade da educao por meio do apoio formao continuada de educadores e gestores educacionais, bem como da criao e da mobilizao de redes colaborativas.
Pediu exonerao do funcionalismo pblico, assumiu a diretoria do instituto e ingressou no mestrado em desenvolvimento e gesto social na UFBA (Universidade Federal da Bahia).
DOCE GENERAL
Nesse tempo, perdeu 12 quilos por causa das madrugadas dedicadas ao estudo e s viagens nos fins de semana para o curso em Salvador.
Hoje, so 20 os municpios da regio integrados ao Icep. "Precisamos acreditar que as pessoas so capazes de transformar sua realidade e de conquistar autonomia."
Nos raros momentos em que no est trabalhando, Cybele ouve msica clssica e dana sozinha em casa.
"Fico doente quando tem algum feriado prolongado. Trabalho de domingo a domingo." No toa que ganhou na Chapada o apelido de "doce general".
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Dados recm-divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica) da Pnad 2011 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios) apontam que existiam no ano passado no Brasil 53,8 milhes de estudantes de 4 anos ou mais de idade, dos quais 61% esto no nvel fundamental de ensino.
Desses 32 milhes de alunos cursando da primeira nona sries, a maioria absoluta -27,9 milhes- frequenta escolas pblicas.
O IBGE destaca ainda que 17,9 milhes de brasileiros de 5 anos ou mais de idade no so alfabetizados -sendo 5,8 milhes na rea rural. A taxa de analfabetismo, considerando as pessoas de 15 anos ou mais de idade, de 8,6% no Brasil. O cenrio mais grave o do Nordeste, campeo disparado nesse quesito, com uma taxa de 16,9%. Em todas as faixas etrias pesquisadas nessa regio, a taxa mdia de analfabetos bem superior equivalente nacional.
A situao piora em regies no urbanas. Segundo o Inaf 2011 (Indicador de Analfabetismo Funcional), h uma presena significativamente maior de analfabetos funcionais na rea rural (44%) do que na rea urbana (24%), ainda que os avanos da rea rural tenham sido significativamente maiores na dcada.
A infraestrutura dos estabelecimentos educacionais rurais tambm afetada. Pesquisa do Ibope de 2010 revela que, das 50 escolas rurais de dez Estados analisadas, 70% no tinham biblioteca, 66% no contavam com computador, e 92% no tinham acesso internet. A nica ferramenta pedaggica encontrada em todas as unidades e em boas condies de uso foi o quadro negro. Mais de 70% ainda utilizam o mimegrafo para reproduzir materiais como provas e exerccios.
Levantamento feito pelo Todos pela Educao aponta que 49,9% do total de educadores que lecionam nas turmas finais dos ensinos fundamental e mdio da zona rural no possuem licenciatura, conforme recomendado pela lei.
Uma busca comparativa em seu site, com dados do IBGE e do MEC de 2009 e 2010, apresenta o seguinte contexto relativo educao baiana:
- Existiam em 2010 3,6 milhes de pessoas em idade escolar na Bahia;
- 43,6% dos jovens de 16 anos concluram o ensino fundamental nesse Estado, contra 49,1% dos nordestinos e 63,4% dos brasileiros em geral;
- 19,2% das crianas (de 10 a 14 anos) apresentavam mais de dois anos de atraso escolar (a mdia brasileira de 13%) e defasagem escolar mdia em anos de estudo de 1,4 (no Brasil 1,1);
- A escolaridade mdia para pessoas com 25 anos ou mais de 5,9 anos de estudo na Bahia, ante 7,2 no Brasil;
- A taxa de abandono nos anos iniciais do ensino fundamental (2010) atinge 4,2% na Bahia (no Brasil 1,8%) e, nos anos finais, 9,6% (mais que o dobro da taxa nacional, de 4,7%);
- Para as taxas de aprovao, esses percentuais so, respectivamente, de 84,8% na Bahia (91,2% no pas) e 73,2% (83,4%).
Em relao ao desempenho nas principais avaliaes nacionais, tem-se que, em praticamente todas as sries avaliadas, o resultado baiano est abaixo da mdia brasileira, conforme verificado nas tabelas abaixo:
Em termos qualitativos, o percentual de alunos baianos que atingiram a pontuao mnima adequada na escala do Saeb/Prova Brasil foi inferior mdia nacional em todas as sries, segundo indicadores do Todos pela Educao:
No caso especfico do Ideb (ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica), matria publicada na Folha no ltimo 3 de outubro destaca que quase 400 das piores escolas pblicas do pas em 2007 no conseguiram melhorar quatro anos depois. A maioria delas (283) at piorou no perodo -das quais 34% esto na Bahia.
Chapada Diamantina
O contexto da histria recente da Chapada Diamantina marcado pelo coronelismo autoritrio e escravagista, em que, at pouco tempo atrs, as nicas crianas alfabetizadas eram os filhos dos coronis, enviados para estudar nas grandes cidades. Essa lgica da perpetuao da ignorncia entre os pobres -aliada a um cenrio econmico fundamentado sobre a agricultura de subsistncia e a explorao pontual de minrios- repercute ainda hoje no alto ndice de analfabetismo funcional da populao local e na cultura da desigualdade.
Como consequncia, das 15 regies econmicas em que dividido o Estado da Bahia, a Chapada Diamantina, que compreende 33 municpios, dentre eles 10 dos 12 que esto no Instituto Chapada, 13a no ndice de Desenvolvimento Econmico e ltima colocada no ndice de Desenvolvimento Social, conforme dados da Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia.
Ainda que haja muito a desenvolver, a regio -mais especificamente os municpios de atuao do Instituto Chapada- pode ser considerada em fase de transio para se tornar um contraponto no Estado.
A ttulo de comparao, a nota mdia na 4a srie/5o ano das escolas pblicas no Ideb 2011 dos 19 municpios em que a organizao atua em duas frentes (formao continuada de professores e mobilizao social e poltica) de 4,3 (ultrapassando em 19% sua meta mdia para 2011, de 3,63), sendo que a mdia baiana para o mesmo grupo foi de 3,9 (11% menor) para uma meta de 3,3.
Como referncia, a mdia e a meta de 2011 para o Brasil nesse extrato foram de 4,7 e 4,4, respectivamente. Se o resultado mdio brasileiro de 2011 passou a meta em 7%, o da Chapada superou em 19%, e o da Bahia, em 18%.
A empreendedora social desenvolveu uma metodologia consistente de aprimoramento coletivo da educao na zona rural que hoje considerada pioneira. O Projeto Chapada foi a gnese do que atualmente vem sendo chamado pelo MEC (Ministrio da Educao) de ADEs (Arranjos de Desenvolvimento da Educao) -ferramentas de gesto pblica e forma de trabalhar em rede para estimular a colaborao entre prefeituras na oferta de educao de qualidade. A criao de ADEs foi homologada pelo ministrio em novembro do ano passado -a candidata desenhou o mtodo de forma pioneira h 16 anos, quando ainda no havia expresso que o alcunhasse.
A Chapada Diamantina, por meio da empreendedora social, tambm se consolida como o primeiro e nico lugar do Brasil com uma iniciativa concreta de carter apartidrio que rene populao e candidatos polticos para pensar propostas para a educao municipal e mantm instncias de monitoramento e avaliao sistematizada da efetivao dessas propostas.
- A principal inovao do Instituto Chapada sua tecnologia social de formao continuada para toda a cadeia de profissionais da educao pblica -do secretrio de educao ao professor- e de forma integrada. Nos municpios em que atua, a rede colaborativa uma realidade -e no um ideal. Gestores municipais, secretrios de educao e suas equipes, diretores escolares, coordenadores pedaggicos e membros da comunidade se renem em processos de formao e/ou mobilizao social e poltica, valorizando-os como aliados da transformao desejada;
- Em termos tcnicos, o projeto tambm inova ao situar a formao continuada em prticas de leitura e produo de textos como meio de acesso a outros conhecimentos e no como finalidade estanque, com a aplicao de um mtodo criado, aprimorado e revisado continuamente;
- Esse trabalho se consolidou no ensino fundamental 1 (at a quarta srie/quinto ano) e agora abre uma frente indita no ensino infantil da regio, nas classes de alunos com quatro e cinco anos de idade;
- A empreendedora social tambm inova ao ter estruturado um mtodo nico e altamente eficiente de gesto participativa da poltica de educao, a partir da elaborao coletiva de um documento com propostas de professores, coordenadores, diretores, pais, alunos e representantes da comunidade para a melhoria da qualidade da educao municipal. A campanha, que acontece em ano eleitoral, tem seu auge no Dia E, em que os polticos candidatos dos municpios participantes assistem apresentao do plano formulado pelos prprios cidados e assinam um termo em que se comprometem a priorizar tais propostas. No encontro, uma comisso de acompanhamento formada a fim de assegurar a efetivao das propostas pelos futuros gestores.
A organizao no apresenta inovao explcita em gesto. Contudo, situada em uma regio de difcil acesso e marcada pelo coronelismo -ainda no completamente superado- em sua histria recente, a candidata rompe paradigmas ao gerir uma ONG com alta eficincia operacional e influenciadora de polticas pblicas, embora apartidria e independente.
Externamente, desenvolveu um mtodo prprio de gesto, registro e articulao de uma rede colaborativa intermunicipal.
- Perfil de liderana mediadora e perseverante da empreendedora social;
- Equipe enxuta e com alto engajamento;
- Protagonismo em redes colaborativas na educao, com resultados comprovados;
- Gesto de parcerias com o poder pblico -meticulosa e transparente;
- Mescla equilibrada do aprofundamento tcnico e acadmico com o pragmatismo empreendedor.
Tem origem no estilo inconformista de liderana da empreendedora social e na cultura organizacional de melhoria contnua das ferramentas pedaggicas por meio da construo coletiva e participativa.
A empreendedora social lidera a nica organizao no governamental sediada na Chapada Diamantina que trabalha diretamente com a problemtica da qualidade da educao na regio. Existem, entretanto, iniciativas voltadas para a formao de educadores gestadas em outro Estado e que atuam no mesmo territrio, afirma a candidata.
o caso do Projeto Trilhas (do Instituto Natura) e do Programa Alm das Letras, do Instituto Avisa L. O primeiro, explica, comeou a ser implementado neste ano, e o segundo j finalizou seu ciclo. Em ambos os casos, no entanto, a ao se resume ao trabalho com o professor.
No h indcios de pontos fracos ou ameaas que coloquem em risco a continuidade do trabalho do Instituto Chapada na rea de educao.
A organizao apresenta um histrico de crescimento horizontal, nos municpios da Chapada, ao longo de seus 16 anos de existncia, tendo comeado em um projeto coletivo informal. Entra agora em uma nova fase de replicao e conta com um audacioso projeto de expanso vertical, para se tornar instituio de ensino superior formadora de profissionais da educao.
O relacionamento com colaboradores, parceiros, patrocinadores, beneficirios e comunidade aberto e transparente, sendo o principal canal de contato as formaes regulares e os fruns e eventos de educao articulados pelo instituto. Disponibiliza atendimentos e/ou prestao de contas por meio de canais como site, e-mail, telefone, newsletters, blog, imprensa e documentos institucionais, como relatrio de execuo financeira on-line (atualmente, apenas a verso 2010) e biblioteca on-line (incipiente).
A participao e a articulao ativas em redes intermunicipais um dos principais vetores de atuao da empreendedora social em prol da melhoria da qualidade da educao. Mobiliza e integra prefeituras, secretarias de educao, escolas e comunidade nesse sentido.
Tambm fellow da rede de empreendedores sociais da Ashoka Brasil.
Por um direcionamento estratgico da candidata, o Instituto Chapada mantm parcerias prioritrias com rgos do poder pblico, sobretudo na esfera municipal de educao. Assim, apresenta relativamente poucos parceiros privados e do Terceiro Setor, com alto potencial de ampliao.
Em termos qualitativos, tem alianas slidas com os apoiadores da iniciativa privada. Um exemplo a Natura, patrocinadora da iniciativa desde o comeo de sua atuao e que destina recursos financeiros inclusive para a atividade-meio, situao incomum em parcerias entre ONGs e empresas.
Oramento anual (2012): R$ 2.664.408.
Patrocinadores (por ordem de investimento): municpios parceiros da Chapada Diamantina e do semirido baiano; Instituto Natura; Odebrecht Transport; Instituto Pennsula; Ita BBA; Instituto Arapya.
A empreendedora social desenvolveu um mecanismo altamente eficiente de qualificao da educao pblica em rede para municpios de pequeno porte. Com a experincia de 16 anos na Chapada Diamantina, que serviu como laboratrio de suas aes, comea agora a replicar o mtodo para outros territrios alm do de origem. Vale ressaltar que, dos 5.565 municpios brasileiros, a maioria apresenta menos 50 mil habitantes.
Em termos gerais, o pblico-alvo composto por todas as crianas que ainda no esto plenamente alfabetizadas, bem como todos os profissionais que esto envolvidos na formao de leitores e produtores de texto autnomos. O ltimo relatrio independente de avaliao, realizado em 2010, aponta para o seguinte perfil de alunos beneficiados:
- 51,8% so meninas e 48,2% meninos;60% dos pacientes so do sexo masculino;
- No terceiro ano, 84% tm at 9 anos de idade; no quinto ano, 70% tm entre 10 e 11 anos;
- A maioria (mais de 70%) pertence s classes C, D e E;
- O documento ainda apresenta os hbitos de leitura dos estudantes e o engajamento dos pais na vida escolar dos filhos.
Sobre os profissionais da educao (professores, coordenadores e diretores), pblico-alvo primrio da candidata, sabe-se pelo estudo que:
- Mais de 80% so mulheres nos trs cargos;
- A principal faixa etria de 30 a 39 anos;
- Grande parte dos profissionais de todos os municpios possui ensino superior completo ou ainda est cursando a faculdade.
O escopo geogrfico tem foco no Estado da Bahia, mais precisamente na regio da Chapada Diamantina e do semirido baiano, com replicao do trabalho para Pernambuco.
Indiretamente, com a sistematizao das experincias, em plena fase de realizao atualmente, o mtodo alcanar escolas de todo o pas via Ministrio da Educao.
A organizao cresceu organicamente por meio de parcerias com novos municpios (na Bahia) e tambm por meio de parceria institucional com um investidor social privado (em Pernambuco). Comeou atuando apenas no municpio de Palmeiras (BA), em 2000 atingiu 12 municpios e hoje atua em 22 municpios.
Dados enviados pela candidata apontam que atualmente os projetos Chapada, Educao Infantil e Via Escola beneficiam 76 mil pessoas.
Em dados no consolidados, ao longo de 2012, esto previstos os seguintes nmeros de beneficirios diretos:
Tecnicamente, os beneficirios primrios do instituto so os profissionais que atuam em toda a cadeia da educao pblica. Contudo, consideram-se as crianas estudantes como beneficirias diretas tambm, uma vez que os indicadores de resultados so medidos diretamente nesse pblico final.
Indiretamente, contam-se os pais de alunos e, em uma escala mais ampla, toda a populao de cada municpio parceiro, a fim de que cada cidado assuma como sua a causa da educao pblica de qualidade.
Segundo a candidata, 157.130 pessoas entre crianas e profissionais da educao pblica so beneficirios indiretos.
invivel replicar integralmente o trabalho que o Instituto Chapada desenvolveu ao longo de sua histria, combinando formao e mobilizao. Contudo, grande parte de seus conhecimentos e aprendizados adquiridos pode ser apreendido por outras organizaes e em outros contextos.
Neste momento, est em discusso uma possvel parceria para a disseminao da metodologia em um pas africano.
A organizao prima pelo trabalho em redes e com outras instituies educacionais e disponibilizar gratuitamente publicaes (incluindo sistematizaes de processo) em 2013. J realizou um seminrio internacional de educao rural, com a participao da Universidade de Lisboa, da Universidade de La Plata e do Instituto de Psicologia de Lisboa.
A organizao acaba de estruturar a sistematizao de sua metodologia de formao por meio da publicao "Coordenador Pedaggico: Funo, Rotina e Prtica", com apoio do MEC. A impresso da obra ficou pronta durante a visita da organizao do prmio. A histria de construo do instituto tambm foi sistematizada, porm sem publicao ainda.
Esto atualmente em fase de elaborao o documento que sistematiza a metodologia de mobilizao social e o de formao de equipes tcnicas das secretarias de educao, ambos com publicao em 2013.
O cerne do trabalho da candidata influenciar polticas pblicas de educao -o que feito de forma exemplar, a partir de um sedimentado mtodo de relacionamento e construo participativa desenvolvido ao longo de 16 anos, desde o incio da atuao. O trabalho mais inovador e emblemtico em polticas pblicas a campanha Chapada e Semirido pela Educao.
Em anos eleitorais, o instituto promove a campanha no intuito de assegurar a continuidade da poltica educacional local aps o resultado das eleies municipais e a chegada dos novos gestores (prefeitos e vereadores).
O objetivo prioritrio a elaborao coletiva de um documento pblico, que deve conter propostas de professores, coordenadores, diretores, pais e representantes da comunidade para a melhoria da qualidade da educao municipal, de modo a inspirar a implementao de planos de ao capazes de assegurar a efetivao dessas propostas pelos futuros gestores.
Durante o processo, formada uma comisso para o acompanhamento das propostas nos quatro anos subsequentes, a Caafe (Comisso de Avaliao das Aes dos Fruns de Educao). Aps a definio das propostas da populao, o documento final diagramado e impresso em formato adequado para, em seguida, ser submetido anlise dos candidatos.
A assinatura do documento pelos candidatos acontece em sesso solene promovida pelo municpio e amplamente divulgada pelo instituto, que imprime a lista de propostas em um banner a ser afixado nas secretarias municipais de educao, em local visvel, durante toda a gesto.
Logo aps o resultado das eleies, os gestores eleitos participam de um seminrio promovido pelo instituto, cujo objetivo colaborar para a promoo de estratgias capazes de assegurar a continuidade da poltica educacional do municpio apesar da mudana no quadro de gestores.
O seminrio ocorre mesmo em caso de reeleio do prefeito.
Com essa iniciativa, o Icep tem garantido a continuidade das polticas educacionais nos municpios parceiros, assim como a continuidade das equipes tcnicas (cargos de confiana) das secretarias municipais de educao, mesmo em caso de mudana de partido.
Na esfera federal, a candidata vem influenciando o Ministrio da Educao no fortalecimento do papel do coordenador pedaggico dentro das escolas por meio da parceria institucional para a disseminao do livro "Coordenador Pedaggico: Funo, Rotina e Prtica". Alm disso, uma representante da Secretaria de Educao Bsica do MEC est acompanhando a implementao do Programa Via Escola, no Estado de Pernambuco.
O trabalho do instituto motivou a aprovao das seguintes leis, de acordo com a candidata:
Sobre os profissionais da educao (professores, coordenadores e diretores), pblico-alvo primrio da candidata, sabe-se pelo estudo que:
- Lei n 096/2010 -institui e regula o plano de carreira e a remunerao dos profissionais de educao do municpio de Novo Horizonte, assegurando o tempo remunerado de trabalho e formao para os educadores, entre outros direitos;
- Lei N 153/2010 -institui o Dia Municipal de Leitura de Iraquara;
- Lei N 112/2009 -institui o cargo de coordenador pedaggico em Iraquara;
- Lei n 230/2009 -institui o Dia Municipal da Leitura no municpio de Utinga.
Mais do que uma data comemorativa, o Dia da Leitura nos municpios parceiros um momento de incentivo ao contato com os livros, com a realizao de eventos relacionados ao tema nas escolas e em espaos pblicos, reitera a empreendedora social.
Nos anos 1990, a empreendedora social identificou pontos-chave que, se resolvidos, poderiam alavancar a qualidade da educao pblica. Um deles era a formao de crianas leitoras e produtoras de texto autnomas por meio da capacitao adequada dos educadores. A figura do coordenador pedaggico emergiu, assim, como elemento fundamental. E foi na valorizao e formao desse profissional em que se investiram os primeiros esforos, relata a candidata.
Atualmente, o instituto trabalha pela erradicao do analfabetismo tambm em outros territrios e entende que a soluo desse problema passa pela formao continuada e qualificada dos educadores, pela continuidade das polticas educacionais e pela implementao de redes colaborativas que assumem coletivamente a responsabilidade pelo aprendizado das crianas.
Nesse contexto, a empreendedora social assume como metodologia de trabalho a articulao e o entrelaamento de trs linhas de ao:
Formao continuada
Centrada na reflexo da prtica desenvolvida na sala de aula, envolve toda a cadeia de profissionais que atuam na educao pblica, de ponta a ponta - do secretrio de educao ao professor - de maneira integrada. A tematizao da prtica a principal estratgia metodolgica de formao e consiste na investigao sistemtica da prtica profissional com o objetivo de analisar e refletir teoricamente a partir da ao. Para a sua realizao, os formadores do instituto documentam o trabalho desenvolvido em sala de aula e garantem espaos de discusso sobre a prtica documentada. So esses procedimentos que subsidiam o planejamento das aes formativas e o acompanhamento do processo de aprendizagem dos alunos.
Mobilizao social e poltica
Frente que contempla a Campanha Chapada e Semirido pela Educao e as atividades que a integram, assim como outras aes de articulao junto aos gestores municipais, como reunies de trabalho, encontros de esclarecimento e defesa da agenda educacional e representao em espaos e fruns pblicos de articulao e mobilizao pela educao.
Produo de conhecimento
Sistematiza e alicera as prticas pedaggicas construdas com os atores educacionais, permitindo a partilha dos saberes construdos.
O diferencial do Instituto Chapada em relao a outras organizaes o investimento contnuo e simultneo nessas trs linhas para a obteno do resultado desejado. Podem-se citar como fatores de sucesso:>O diferencial do Instituto Chapada em relao a outras organizaes o investimento contnuo e simultneo nessas trs linhas para a obteno do resultado desejado. Podem-se citar como fatores de sucesso:
- aprendizagem em espiral -compreende a aprendizagem como um processo contnuo, progressivo e participativo, gerando um movimento de retomada nos eixos e nas frentes de trabalho, que incluiro sempre as novas aprendizagens e aquelas que j foram consolidadas;
- atuao por meio de redes colaborativas -espaos democrticos de participao e parceria, que buscam fortalecer o coletivo, considerando a identidade e a autonomia dos componentes;
- cadeia de formao e responsabilidade -envolve e compromete toda a rede, do secretrio municipal de educao ao professor;
- investimento na competncia local -superando a ideia de que a competncia est sempre fora da regio;
- participao ativa dos municpios parceiros nas decises estratgicas do Instituto.
Destaca-se que a candidata busca um novo paradigma com a velha forma de fazer. Bastante crtica a recursos de programas privados para interveno na educao pblica e contra sua "privatizao", a educadora entende que os recursos para um ensino pblico de qualidade so obrigao do governo, j existem e basta que sejam bem geridos para o alcance dos resultados.
Projeto Chapada
Configura-se como espao original de desenvolvimento e implementao da metodologia do instituto, combinando o programa de Formao Continuada e as aes de Mobilizao Poltica para promover a formao de crianas leitoras e produtoras de texto nas turmas do ensino fundamental 1 nos municpios parceiros.
Projeto de Educao Infantil (PEI)
Contribui para a qualificao das prticas pedaggicas das classes de 4 e 5 anos nas redes de ensino de 17 municpios vinculados ao Projeto Chapada.
Programa Via Escola
Primeira experincia de disseminao da metodologia do instituto fora do territrio baiano. Em sua fase piloto (2012-2014), o Via Escola ser implementado em um conjunto de escolas dos municpios de Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca e Jaboato dos Guararapes, no Estado de Pernambuco, com patrocnio da Odebrecht Transport.
O Via Escola combina o programa de Formao Continuada e as aes de Mobilizao Poltica para construir um pacto pela educao com os municpios parceiros e garantir a permanncia das crianas na escola e o desenvolvimento de competncias na rea de leitura e escrita. Mostra-se uma alternativa de construo conjunta em uma regio que conta com dezenas de projetos privados no participativos e de resultados minorados.
Publicao "Coordenador Pedaggico: Funo, Rotina e Prtica"
Tratado como um projeto do instituto, dada a complexidade da sua elaborao, o livro, uma vez finalizado, conta com apoio do Ministrio da Educao para a distribuio nacional.
DEPOIMENTOS
"O instituto traduz de forma exemplar que possvel ter educao pblica de qualidade. E de dentro pra fora, o que inovador."ANA INOUE, conselheira do Instituto Chapada e consultora do Ita-BBA para projetos de educao
"A criana tambm assume responsabilidade sobre o seu conhecimento e pode discutir isso em outras coisas. Como o prefeito de Tupi, que estava na casa dele tomando caf da manh quando chegou um grupo de crianas - crianas! - dizendo que queriam conversar com ele sobre a merenda escolar. A maneira como voc alfabetiza desencadeia esse tipo de coisa."
AUREO CARIBS DE AZEVEDO, 59, mdico e marido de Cybele
"A Cybele uma guerreira e o trabalho dela brilhante. Tudo o que ela pega pra fazer ela leva adiante e sempre consegue que as coisas deem certo. Se a educao j to abandonada no nosso pas, no interior mais ainda, e o projeto faz muito pela educao nos municpios. O nosso Ideb cresceu bastante, e a gente atribui isso ao Icep."
ALADE EMLIA DOURADO OLIVEIRA, 33, diretora de escola rural em Iraquara
"Eu vejo a Cybele como uma pessoa muito inteligente, que se dedica mesmo, de corpo e alma. A gente percebe isso no resultado dos professores, no trabalho em sala de aula, no dia a dia. A educao uma construo, ento, se a gente est tendo esse bom resultado, eu creio que vem dela: do esforo dela, de estar sempre acompanhando os professores, os coordenadores. uma pessoa que faz a diferena."
Cirlndia Reis Moreira, 35, professora do ensino fundamental 1 em Novo Horizonte
"Eu estou com Cybele desde o inicio. Ela a grande disseminadora do projeto e tem contribudo muito pra que a realidade desses municpios mude completamente no que diz respeito educao."
Claudia Fernandes Rocha, 40, pedagoga, coordenadora pedaggica e formadora do Instituto Chapada, de Ipia, mas vive em Iraquara h 16 anos
Aprendi quase tudo o que eu sei com ela. Ela bem detalhista e exigente, mas sempre mostra para os outros como as coisas devem ser feitas.
CLAUDIA VIEIRA DOS SANTOS, 29, vice-presidente do Icep, nasceu e vive no Vale do Capo. Foi aluna da primeira turma da qual Cybele foi professora na Chapada Diamantina. Fez pedagogia e administrao de empresas
"O Instituto Chapada caminha para a morte. Ou seja, trabalhamos sempre a autonomia e a independncia dos municpios em relao continuidade do projeto. Em Pernambuco, diante de tantos programas educacionais de empresas sem construo participativa, uma educadora descreveu a sensao de estar passando fome diante de um banquete. Nosso mtodo se diferencia por isso."
GIOVANA ZEN, chefe de pediatria da Unifesp 35, coordenadora pedaggica dos projetos Educao Infantil e Via Escola
"Minha ligao com a Cybele teve incio nos anos 1990, quando ela foi selecionada pelo programa Crer pra Ver da Natura por sua competncia tcnica e liderana. Quando terminou o perodo do projeto, achamos que o trabalho era muito relevante para se extinguir no tempo, por isso continuamos at hoje a investir nele. uma experincia extremamente rica de articulao social em prol da causa da educao. Ela se destaca pelo papel de liderana forte com embasamento tcnico e capacidade de articulao e mobilizao de lideranas. Cybele doce, feminina, baiana, suave, mas de muita fora e obstinada na sua misso."
GUILHERME PEIRO LEAL, 62, conselheiro do Instituto Chapada, empresrio e poltico, presidente do Conselho de Administrao da Natura Cosmticos