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Henrique Cardoso Saraiva, Luana Fransolino Monteiro Nobre, Luiz Phelipe Netto Monteiro Nobre

Quem são eles?

Henrique Cardoso Saraiva, 32, graduado em marketing
Luana Fransolino Monteiro Nobre, 27, educadora física
Luiz Phelipe Netto Monteiro Nobre, 33, fisioterapeuta

Organização: Adaptsurf (Associação Adaptação e Surf)

Ano de fundação: 2007
www.adaptsurf.org.br

*dados de 2011

A Adaptsurf promove a inclusão e a integração social das pessoas com deficiência (física, intelectual, sensorial ou múltipla) por meio do esporte e do lazer, aproveitando a praia como ambiente. Pioneira, é referência no Brasil em acessibilidade de praias e no uso do surfe adaptado como instrumento de desenvolvimento físico e emocional. Os empreendedores sociais beneficiaram diretamente e de modo transformador 520 pessoas desde 2008 em seus projetos no Rio de Janeiro, onde está baseada, e em cidades como Guarujá (SP), Niterói (RJ) e Arraial do Cabo (RJ).

Onda inclusiva

Trio de amigos embarcam numa “trip” em busca do surfe adaptado e da acessibilidade nas praias do país

JAIRO MARQUES
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Ao mesmo tempo em que o profissional de marketing Henrique Cardoso, 32, observa os movimentos que um aluno tetraplégico faz sobre a prancha de surfe para atribuir-lhe uma nota, Luana Nobre, 27, formada em educação física, já prepara a próxima competidora, uma jovem com paralisa cerebral, para entrar na água.

No mar, buscando a “onda perfeita” para um aluno cego, ajeitando o posicionamento e dando segurança para as manobras dele, está o fisioterapeuta Phelipe Nobre, 33.

O trio –que numa ensolarada tarde de sábado promovia um torneio entre seus 40 alunos– compõe a ONG Adpatsurf, que proporciona o prazer de ir à praia, com condições de acessibilidade, aliado à prática de surfe, para pessoas com deficiência física, sensorial e intelectual.

“O Henrique, além de cuidar de toda a parte administrativa da ONG, firmando convênios, patrocínios e a papelada toda, é a inspiração para nós e para os alunos. Como ele também tem uma deficiência, mostra que qualquer um pode surfar”, diz Luana.

Por causa de um roubo de uma bicicleta, acontecido em um 3 de dezembro –Dia Internacional da Pessoa com Deficiência–, Henrique, então com 18 anos, acabou levando um tiro cuja bala entrou pela barriga e atingiu a coluna vertebral. O ato o deixou por seis meses em uma cadeira de rodas.

Com a reabilitação, hoje anda de muletas e pega ondas de joelhos “com desenvoltura de profissional”, segundo seus parceiros de trabalho.

Antes de montar a ONG, fez trabalhos “burocráticos” em multinacionais, passou maus bocados para se firmar novamente diante de uma realidade com deficiência, consolou os pais –que anos antes do ocorrido com ele, já haviam perdido um filho em um acidente– e se encorajou para largar uma rotina tradicional de vida para se dedicar integralmente ao projeto social da Adaptsurf.

Acredita que a pós-graduação em gerenciamento de projetos do terceiro setor na Fundação Getulio Vargas, que começou neste ano, vai ser fundamental para conseguir deslanchar o ainda “ponto fraco” da associação: a sustentação financeira. Considera-se “um terço” da ONG e diz haver perfeita harmonia entre o trio.

“A Luana é a nossa parte emoção. Ela une os voluntários, incentiva os alunos a irem em frente, recebe todo mundo com um sorriso meigo. Ela adora o que faz e estuda muito sobre tudo que envolve as pessoas com deficiência. É ela quem tem o controle do desempenho de cada um que passa por aqui.”

Luana deixou a família e a vida tranquila no Paraná e foi para o Rio “por amor” –é casada com Phelipe, que morava na capital fluminense. Para que o parceiro tenha mais tempo livre para se dedicar aos trabalhos da ONG, declara não reclamar de trabalhar dobrado para “sustentar a casa”.

Ela dá aulas em uma escola particular durante o dia e em uma academia de ginástica à noite. Quer se especializar ainda mais em atividades adaptadas para deficientes e é convicta em dizer que seu grande sonho é motivar cada vez mais “o amor e o respeito entre as pessoas”. Com seus conhecimentos de práticas desportivas, desenvolveu, junto com o marido, os métodos para o surfe adaptado.

“Usamos os preceitos das aulas tradicionais de surfe, adaptando com a realidade de cada deficiente. A gente faz uma avaliação física, entrevista os alunos sobre seus potenciais
–equilíbrio, força, coordenação– e testamos o desempenho dele na areia. Depois disso, a gente determina como ele vai conseguir pegar a onda –deitado, de joelhos, sentado, agachado, em pé”, explica Phelipe.

O fisioterapeuta, que faz atendimentos particulares a pacientes do Rio, chega a passar quatro horas na água salgada, ao lado de voluntários que o auxiliam. Assim, ele garante que cada aluno faça uma sessão de ondas e vá aprimorando a prática para que, em algum momento, possa pegar sua prancha e aproveitar o mar da forma mais independente possível.

Os três querem, para um futuro breve, espalhar o conceito de “praia acessível” pelo país, divulgar para o mundo, com metodologia, que o surfe adaptado é possível para quaisquer deficiências e atrair mais mantenedores para poderem se manter totalmente com as atividades da ONG.

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Conheça mais sobre a Adaptsurf

A Adaptsurf é pioneira no Brasil por unir os conceitos de acessibilidade à praia e prática de esporte adaptado. O modelo de praia acessível e banho de mar assistido por equipe especializada desenvolvido pela ONG foi o primeiro no país e teve inspiração em experiências realizadas em Portugal e na Austrália.

Antes da fundação da Adaptsurf, não existia mobilização nesse sentido nas praias brasileiras. O modelo das aulas de surfe adaptado é inovador no Rio de Janeiro, sendo praticado com algumas diferenças por duas instituições no litoral paulista (no Guarujá e em São Sebastião).

Um dos principais diferenciais é ter o foco na integração, utilizando o surfe como ferramenta, e não apenas na inclusão. O objetivo não é “ter um cantinho reservado para deficientes”, mas sim garantir que a praia seja “um ambiente de todos”, estimulando a interação e o convívio entre banhistas com e sem deficiência.

Para isso, realiza suas atividades diretamente na areia, em pontos movimentados das badaladas praias do Leblon (zona sul do Rio) e do Pepê, na Barra da Tijuca (zona oeste).

Outro elemento importante de diferenciação é sua metodologia educacional, operacional e de segurança. A Adaptsurf desenvolveu um método próprio e eficiente de ensino de surfe adaptado, com chancela da ISA (International Surf Association) e, sobretudo, a expertise dos três empreendedores sociais –um fisioterapeuta, uma professora de educação física com especialização em esportes inclusivos e um surfista com mobilidade reduzida. Dessa união, surgiu uma abordagem inovadora ao integrar saúde, educação e desenvolvimento pessoal.

Ao contrário de outras escolas de surfe, as aulas da ONG acontecem durante todo o ano, são gratuitas para todos os praticantes –independentemente de sua situação econômica– e voltadas para todas as deficiências (físicas e intelectuais).

Por meio de eventos como o Circuito Adaptsurf –primeiro e único do gênero no Brasil–, a organização tem sido a principal referência e protagonista na promoção do conceito de surfe adaptado no país.

É a única ONG no Brasil convidada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) a participar do grupo de trabalho dedicado à normalização internacional sobre praias, no âmbito dos comitês da ISO (International Organization for Standardization), sendo responsável pelo tema acessibilidade.

Os resultados devem sair em 2013, e o selo internacional, em 2014. Também foi a organização escolhida como responsável pelo surfe adaptado no Rio pela Federação de Surfe do Estado.

A ONG vem se mantendo com o investimento pessoal de seus três fundadores, que trabalham voluntariamente todos os fins de semana em que as condições climáticas permitem a prática do surfe.

A estratégia de captação de recursos passa por três frentes:

1 - associados –em fase piloto iniciada em setembro, a proposta é estimular depósitos mensais de sócios-colaboradores em três níveis (R$ 20, R$ 50 e R$ 100). Como as aulas de surfe são gratuitas, espera-se a contribuição livre dos alunos, sobretudo os de maior capacidade econômica;

2 - mantenedores –iniciativa voltada a empresas, para investimento de R$ 1.000 mensais tendo em troca exposição da marca e alinhamento a uma prática esportiva inclusiva.

Atualmente a Adaptsurf conta com um mantenedor de R$ 1.000 (Congress Rental) e um apoiador (Lev) de R$ 200 mensais e está negociando com empresas como Kpaloa, Grupo Umbria (dono das franquias Spoleto, Domino´s Pizza e Koni Store) e Grupo EBX – MMX;

3 - projetos incentivados –com foco no financiamento das atividades da ONG, que atualmente tem um custo de R$ 265 mil anuais (contando recursos humanos e materiais) nos atuais postos do Leblon e da Barra.

Principais parceiros: Congress Rental, Grupo Sol, Grupo Úmbria, Kpaloa,
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), Contempos, Dimensão, Feserj (federação de surfe), Geka, Koni Store, MK Advogados, Nike, Rafinha Surfboards, RioTur e Seacult.

A ONG informa que, desde a fundação, beneficiou 520 pessoas em seus projetos. De 2008 a 2010, foram realizadas 1.765 aulas de surfe, além de quatro palestras e quatro demonstrações de surfe adaptado. Também foram realizadas 13 análises de praias e 11 mutirões de limpeza. Todos os alunos se mantiveram desde o início.

Por meio de um guia de acessibilidade de praias realizado em 2008 em parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro, a entidade mapeou as principais áreas de litoral da cidade em relação à infraestrutura de acesso a deficientes (segundo as normas ABNT), ao nível de preservação ambiental e às condições para prática de surfe.

O guia, único do gênero disponível, está aberto para download gratuito no site da Adaptsurf. Segundo a organização, já houve mais de 8.000 acessos ao guia.

A ONG mantém documentação referente a cada beneficiário e periodicamente consolidam relatórios de avaliação de desenvolvimento individual baseados nos resultados obtidos e nos depoimentos dos beneficiários e seus familiares.

A análise é feita com dados obtidos em avaliações físico-funcionais, em que se avaliam os seguintes aspectos do aluno:

  • exame físico (altura, peso, calçado, sinais vitais);
  • histórico médico;
  • inspeção e palpação (estatura, curvatura, análise dos membros);
  • mobilidade e testes (desempenho na areia e na água, resultados de testes neurológicos e de mobilidade);
  • função e vida diária (grau de independência, vida cotidiana);
  • esporte praticado e atividades preferidas (histórico de prática de esportes);
  • hábitos alimentares, posturais e atividades físicas;
  • exame neurológico (reflexos, sensibilidade, coordenação e equilíbrio);
  • avaliação postural e análise de marcha;
  • exames complementares, resultados e considerações, anotações extras.

Qualitativamente, os resultados são observados pelos relatos pessoais e acompanhamento psicopedagógico. Não há levantamento sobre o perfil socioeconômico dos beneficiários, tampouco os processos de avaliação estão sistematizados em documentos.

Estudos elaborados por terceiros apontam que o surfe adaptado contribui para a pessoa com deficiência nos seguintes aspectos:

  • melhora e desenvolvimento de autoestima e autoimagem;
  • estimula a independência e a autonomia;
  • promove interação e socialização com outros grupos;
  • permite contatos com outras pessoas, deficientes ou não;
  • é uma experiência intensiva com suas possibilidades, potencialidades e limitações;
  • permite vivência de situações de sucesso e superação de situações de frustração;
  • utiliza o potencial sensorial e psicomotor;
  • melhora as condições funcionais do organismo (aparelhos circulatório, respiratório, digestivo, reprodutor e excretor);
  • melhora a força e a resistência muscular global;
  • aprimora a coordenação motora e o ritmo;
  • melhora no equilíbrio estático e dinâmico;
  • possibilita acesso à prática do esporte como lazer, reabilitação e competição;
  • previne deficiências secundárias;
  • motiva para outros tipos de atividade;
  • é manutenção e promoção da saúde e condição física;
  • desenvolve habilidades motoras e funcionais;
  • melhora a qualidade de vida em geral.

A Adaptsurf surgiu e trabalha atualmente na cidade do Rio de Janeiro. Mas já levou sua metodologia que combina surfe adaptado e praia acessível aos municípios de Guarujá (SP), Niterói (RJ) e Arraial do Cabo (RJ). A ONG já apresentou seu trabalho em Saquarema (RJ) e Macaé (RJ) –nesse último, há planos para implantação do projeto acessibilidade de praias no próximo verão.

A organização visualiza sua expansão primeiramente nos Estados do Rio e de São Paulo, devido à proximidade geográfica, para posteriormente atingir o Nordeste.

Seu método de trabalho não está sistematizado em documentos para replicação, mas os candidatos afirmam já ter capacidade para ganhar escala.

A organização já prestou consultoria a diversas outras entidades, como o Instituto Novo Ser, que realiza o projeto de acessibilidade Praia para Todos durante o verão na Barra da Tijuca.

ONGs de Torres (RS) e Maracaípe (PE) também buscaram a expertise, segundo os empreendedores sociais, além da Secretaria da Pessoa com Deficiência de São Paulo, para o lançamento do programa estadual Praia Acessível.

A atuação da Adaptsurf tem três eixos direcionadores: acessibilidade, integração e preservação. De forma transversal a esses temas norteadores está a conscientização para a mudança cultural em relação à deficiência.

Acessibilidade

Pioneiro no Rio de Janeiro, o projeto Praia Acessível tem como objetivo discutir e viabilizar a acessibilidade das praias cariocas. A ONG desenvolve estudos urbanísticos e ambientais sobre as condições dos acessos das praias e entorno, analisando principalmente o acesso à faixa de areia e ao mar pelas pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida.

Para desenvolver expertise no tema, os empreendedores sociais pesquisaram diversos exemplos positivos no Brasil e no mundo. Voluntários realizaram pesquisas coletando informações e imagens de diferentes praias na Austrália, na Espanha, nos EUA (Califórnia e Havaí), na Indonésia, em Portugal, no Uruguai e na Venezuela.

A partir desse levantamento, a Adaptsurf fez um estudo sobre as condições dos acessos nas praias do Rio. Com os resultados, elaborou um guia e prestou consultoria para a prefeitura, estabelecendo parceria com a RioTur com a finalidade de promover o primeiro trecho de praia acessível do Rio de Janeiro.

Após vencer o edital público de convênio com a Secretaria Especial de Turismo do Rio, inaugurou o trecho na praia do Leblon, em frente ao posto 11, com estrutura para atender as pessoas e oferecer aulas de surfe e banho de mar assistido. Para melhorar a acessibilidade foi instalada uma rampa, esteira na areia e compradas duas cadeiras de rodas anfíbias, além de pranchas adaptadas.

Tornou-se rapidamente referência no tema, do qual foi precursora no Brasil. Prestou consultoria em acessibilidade de praias para instituições de Recife, Niterói, São Paulo e Rio de Janeiro, sendo responsável por divulgar alternativas em tecnologia assistiva que viabilizam o acesso das pessoas com deficiência no ambiente natural das praias.

Também foi convidada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para integrar o grupo de trabalho dedicado à normalização internacional sobre praias, compartilhando as informações dos estudos realizados pelo projeto Praia Acessível.

Integração

A integração de pessoas com e sem deficiência se dá por meio do projeto Surf Adaptado, que consiste de aulas de surfe adaptado para pessoas com deficiência física, visual, auditiva e intelectual. O trabalho é embasado por uma metodologia específica, desenvolvida com técnicas de fisioterapia e educação física, de modo a garantir segurança e eficiência no aprendizado.

Os serviços são gratuitos e feitos de forma voluntária pelos profissionais que cedem seu tempo em prol da causa. Desde 2008, as oficinas de surfe acontecem aos finais de semana na praia do Leblon, em frente ao posto 11, e na praia da Barra da Tijuca, em frente ao posto 2.

Os alunos são orientados pela equipe de empreendedores sociais, que elaborou a partir da teoria e da prática um método de ensino personalizado, segundo cada tipo e grau de deficiência dos alunos, de modo a aprimorar seus aspectos físicos, emocionais e sociais.

Assim, enquanto o cadeirante surfa de joelhos e em posições que reforcem sua musculatura, o cego utiliza prancha com marcações especiais e recebe instruções que ajudam a aperfeiçoar os sentidos, ao passo que o surdo treina equilíbrio.

As aulas duram de 40 a 50 minutos durante todo o dia, se as condições climáticas permitirem a prática do esporte. Voluntários e alunos auxiliam na montagem da estrutura de acessibilidade (esteiras e tenda). Inicia-se com uma aula de ioga.

Os alunos surgem em geral por meio do boca a boca e passam por uma entrevista inicial que aponta seu estado e a melhor forma de trabalho. Excepcionalmente, pessoas com síndrome de Down, descolamento de retina e hemiplegia (com hemorragia cerebral) são desencorajadas a praticar o esporte, por riscos de acidentes.

Parte importante do método é a integração entre os alunos, que acontece na tenda central, onde todos se concentram durante as aulas. Paralelamente, são realizadas oficinas de arte e multimídia e eventos de confraternização entre os surfistas, tendo em vista o desenvolvimento da criatividade e estimulando a interação dos participantes entre si e com a natureza. A internet, com o uso de redes sociais (Twitter, site, blog e Facebook), é outro canal de contato.

Por fim, a ONG lançou o Circuito Adaptsurf, o primeiro e único especialmente focado em surfe adaptado, cujo objetivo principal não é a competição em si, mas a integração e o estímulo à prática do esporte entre seus participantes.

Preservação

O terceiro eixo de atuação, o projeto Preservação Ambiental, tem como objetivo principal alertar a sociedade sobre a gravidade dos problemas gerados pelo lixo deixado nas praias, tanto para o ecossistema costeiro, como para a saúde e o lazer.

Realizam periodicamente estudos ambientais sobre as condições das praias cariocas, analisando a vegetação costeira, a faixa de areia e o mar.

Separam-se e avaliam-se os resíduos encontrados com a finalidade de catalogar os tipos de lixo mais encontrados nas praias. A promoção da consciência ecológica se dá com a mobilização de voluntários para mutirões de limpeza e educação ambiental dos frequentadores. Os mutirões acontecem no Leblon, na Barra da Tijuca, na Macumba e na Prainha.

Interdisciplinarmente, a ONG participa de eventos especializados nos temas de acessibilidade e esportivos como feiras, seminários e congressos. Realiza também palestras sobre surfe adaptado em universidades com a finalidade de divulgar e difundir a modalidade de esporte adaptado entre os estudantes de educação física, fisioterapia e psicologia.

Outra vertente desse trabalho é o treinamento específico para atletas adaptados, a fim de aprimorar o condicionamento físico e a técnica do surfe, além de divulgar a modalidade. O empreendedor social Henrique Saraiva e outros atletas fazem demonstrações de surfe em campeonatos nacionais e internacionais.

Essas iniciativas visam concretizar a missão de conscientizar a população e, principalmente, os órgãos públicos sobre a importância da acessibilidade das praias para garantir o acesso ao lazer e ao esporte praticado pelas pessoas com deficiência.

“Embora desde criança eu enfrente um problema de visão, sempre tive paixão pela água. Morar no Rio é ter o mar como lazer quase obrigatório. Na adolescência, eu nadava, brincava na água, mas nunca havia surfado, nunca imaginei que um cego fosse conseguir parar em pé sobre uma prancha, fosse conseguir vencer uma onda.

O fato de eu não ver fez aguçar demais em mim outros sentidos. Adoro o cheiro do mar, que me atrai muito. Gosto de sentir a intensidade dele: dias mais fortes e dias mais calmos. O vento no rosto é delicioso, o barulho das gaivotas é demais, a areia nos pés é um prazer. Quem está na praia está feliz.

Apesar disso, estava me tornando um cego sedentário, que ficava só dentro de casa escutando rádio, tomando café e lendo. Estava muito incomodado com aquela situação, que só começou a mudar quando eu descobri o trabalho da Adaptsurf.

Nasci com um problema nos olhos, mas só aos sete anos descobriu-se que era uma catarata congênita. Até os 12 anos, usava óculos fundos de garrafa que não serviam para nada. Para ver televisão, meu pai até brincava comigo, eu ficava cheirando a tela, de tão próximo que chegava.

Só fui ser operado na adolescência. Melhorei do olho esquerdo, mas tinha de usar lente de contato com grau 16! A outra vista acabei perdendo numa segunda cirurgia. Aos 18 anos, comecei a trabalhar em gráficas de jornal e acabei pegando gosto pela diagramação, arte que exerci em vários jornais.

Aos 33 anos, com a visão já muito machucada, forçada, tive glaucoma. A partir dali, só um transplante de córnea me garantiria continuar vendo alguma coisa. Com quase 40 anos, operei.

Durante um ano e dois meses, consegui enxergar como nunca antes na minha vida, foi um período maravilhoso. Mas, a partir daí, a córnea foi se apagando, e fiquei totalmente cego. Perdi a perspectiva de ter alegria, caí em depressão.

Agora, aos 52 anos, pegando onda, graças ao auxílio do pessoal da ONG, sinto que estou me renovando. Parece que o gosto da minha infância voltou, minha vontade de ser feliz voltou. Vou me casar novamente [tem dois filhos de 23 e 24 anos do primeiro casamento], fiz novos amigos, tenho uma nova realidade.

Pego três ônibus para chegar até aqui [na Barra, praia onde acontece o projeto aos sábados], mas não troco esse prazer por nada. Se eu não vier toda semana, fico meio jururu?. Todas as praias do Brasil tinham de ser acessíveis, do jeito que o pessoal daqui faz. Isso muda a realidade das pessoas.”

MARLON HAUS DA SILVA, 52, aluno da Adaptsurf
 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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