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Claudia de Feitas Vidigal

Quem é ela?

Claudia de Freitas Vidigal, 37, psicóloga, casada, dois filhos

Organização: Instituto Fazendo História

Ano de fundação: 2005 (oficial) e 2001 (início das atividades)
www.fazendohistoria.org.br

*dados de 2011

O Instituto Fazendo História melhora a qualidade do atendimento prestado por abrigos a crianças e adolescentes, com o objetivo de garantir a aplicação dos direitos previstos por lei. São quatro programas inovadores: Fazendo Minha História (registra a história de vida de cada acolhido pela criação conjunta de um livro-álbum personalizado), Perspectivas (capacitação das equipes dos abrigos), Com Tato (atendimento psicológico voluntário) e Palavra de Bebê (estimula o vínculo educador-bebê). Beneficia mais de mil crianças e adolescentes por ano em 105 instituições de seis Estados (CE, MA, PB, PR, RJ e SP), do Distrito Federal e da Costa Rica.

Álbum de figurinhas

Por meio de coloridos diários, psicóloga registra a singularidade das histórias de crianças em abrigos

GABRIELA ROMEU
DE SÃO PAULO

Ao falar horas sobre sua trajetória pessoal, a psicóloga Claudia Vidigal, 37, descobre lá pelas tantas que tem uma história meio sem graça, uma “vida normalzinha”, sem um clímax surpreendente.

Vista por esse viés, a história de vida da empreendedora poderia ser resumida em poucas linhas. Nascida numa abastada família paulistana, estudou em colégio de elite, passava as férias na fazenda da avó, casou, descasou, tornou a casar, virou mãe de dois meninos.

Mas para isso seria preciso suprimir de sua biografia um capítulo especial: a criação do Instituto Fazendo História, que propõe olhar a singularidade das crianças que vivem em abrigos espalhados pelo país.

Esse capítulo começou a ser escrito – rascunhado, talvez – em 1999, quando em sua “vidinha normal” passou a atender voluntariamente crianças dessas instituições em seu consultório.

“Acompanhando em profundidade a história de cada uma daquelas crianças, vi o potencial de transformação que poderia promover”, diz. Logo percebeu que aquelas não eram somente “as crianças do abrigo”. Eram o Alex, a Flávia, o Bruno e tantos outros nomes que compõem uma infância invisível, muitas vezes fora das estatísticas.

Em pouco tempo, ela já estava envolvida semanalmente com bebês dentro de um grande abrigo em São Paulo. Aqueles recém-nascidos, que pareciam não ser personagens principais de história nenhuma, foram ganhando plaquinhas que os identificavam no berço, registros sobre o primeiro engatinhar.

Nessa época, Claudia andava às voltas com “uma tchurminha bem a mesma, cheia de grana e de conhecimentos sociais”. Mas, ao olhar toda aquela suntuosidade ao redor, passou a se questionar: “Por que estou nessa onda?” Aquele enredo não parecia ser o seu.

No trabalho, vivia uma maratona digna de heroína de livro de aventuras. Envolvida em “mil atividades”, ela atendia em seu consultório, visitava os abrigos, prestava consultoria para empresas e ainda sobrava muito “gás” para se aventurar em corridas como o Ecomotion.

Foi também nesse período que personagens nada secundários cruzaram sua história. Um grupo de 20 garotas adolescentes grávidas, que viviam em abrigos. Juntas, liam livros como “Capitães da Areia” (Jorge Amado), compartilhavam dúvidas e segredos, riam e choravam. A literatura surgia como forte mediadora entre o universo da ficção e o mundo real.

Tudo era registrado em álbuns, cheios de fotos e anotações. Enquanto as meninas gestavam seus bebês e registravam suas sagas particulares, nascia o Fazendo Minha História, hoje um dos quatro programas do instituto. “Assim, elas projetavam um futuro para si mesmas e para seus filhos.”

O registro dessas histórias, observa hoje, nada mais é “um olhar para o outro”, algo que a fascina desde menina e que diz ter herdado da avó materna, “o grande colo” da família.

No epílogo da conversa, depois de abrir o álbum de sua vida, ela para e pondera: “Como é bom contar a história da gente, né?”

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CONHEÇA MAIS SOBRE O Instituto Fazendo História

O Fazendo História concebeu e desenvolveu uma tecnologia social altamente inovadora e eficiente para o trabalho dentro de instituições de acolhimento. Foi a primeira organização do país –e possivelmente do mundo– que teve como eixo central na formação e na transformação dos abrigos as histórias de vida pessoais e familiares das crianças e dos adolescentes acolhidos, registradas de forma sistemática em um diário.

Seu modelo inspirou outros trabalhos, mas até hoje é a instituição mais bem preparada e de maior impacto no país na temática em que se especializou.

Não se trata simplesmente de contação de histórias, como diversas outras entidades executam –embora os programas do instituto também incluam essa ferramenta. Seu principal diferencial está em garantir a valorização e a preservação da identidade pessoal e familiar dentro de um ambiente institucional a partir da escuta e do registro das histórias que fazem dessas crianças e adolescentes protagonistas de suas vidas.

Outra vertente inovadora é a que trabalha exclusivamente com bebês nas casas de acolhimento. A ONG desenvolveu um método próprio que reforça o vínculo entre os bebês e os seus cuidadores, além de registrar sua história desde o berço.

Por fim, a organização se difere por ter criado um método por meio do qual é possível trabalhar o coletivo, almejando grande impacto, mas sem perder de vista a singularidade de suas ações.

O orçamento total da instituição variou de R$ 603 mil para R$ 1,2 milhão entre 2009 e 2010 e está previsto para fechar este ano em R$ 894 mil. Esse montante provém de fontes diversificadas de recursos, distribuídas entre financiamento via leis de incentivo (40%), prestação de serviços para o município de São Paulo (cerca de 30%), patrocínio direto (12%), doações de pessoas físicas e jurídicas (9%), rendimentos e prêmios (7%) e uma pequena parcela restante da venda de livros e diários, bem como da realização de eventos pequenos para arrecadação de fundos.

O instituto conta ainda com um fundo de reserva de cerca de R$ 200 mil. 

O fluxo de caixa é registrado por meio de planilhas simples e não há na organização um profissional especialista em administração financeira. Um escritório de contabilidade presta serviços pro bono.

Principais parceiros: Almap BBDO, Banco Paulista, BMC (Brasil Máquinas), Credit Suisse, Criança Esperança, Estáter, Fies (Fundo Itaú Excelência Social), Fumcad (Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente), Impaes, Instituto Azzi, Instituto Hedging-Griffo, Johnson & Johnson, Marítima Seguros e Tocave.

Em 2010 foram atendidas diretamente 1.005 crianças e adolescentes e indiretamente 1.200 em 105 instituições de acolhimento. Desses abrigos, 785 profissionais participaram de formações do instituto. Durante o ano, 404 voluntários trabalharam nos programas.

Por programa, foram envolvidos:

  • Fazendo Minha História –901 crianças e adolescentes, 407 profissionais dos abrigos, 357 colaboradores voluntários e oito famílias acolhedoras;
  • Perspectivas –60 abrigos, 388 educadores e 1.200 crianças e adolescentes (atendidos indiretamente);
  • Com Tato –41 pacientes, 35 profissionais voluntários (26 terapeutas e nove supervisores) e 19 instituições;
  • Palavra de Bebê –50 bebês, 13 mães adolescentes, 60 educadores e equipe técnica, 12 voluntários e um colaborador técnico.

O instituto realiza avaliações de desempenho por programa, a partir dos objetivos específicos de cada um deles. Por exemplo, no caso do Palavra de Bebê, avalia nos abrigos os graus de:

  • preparo do espaço físico e do ambiente afetivo para bebês (existência de espaço exclusivo, mobília adequada e brinquedos, atenção individualizada, frequência em que são segurados no colo etc.);
  • interação e comunicação entre educadores e bebês (conversas com os bebês sobre sonhos, expectativas, histórias de vida etc., qualidade do álbum, se os educadores cantam, fazem massagem, brincam, contam histórias etc.)
  • conhecimento sobre as condições necessárias para o desenvolvimento nessa faixa etária (sinais de risco, horários e preferências de cada bebê, rotinas de interação com livros etc.)
  • registro da história passada e presente dos bebês, comparando os pontos de vista de colaboradores, educadores e equipe técnica (como são feitos e quais são os registros no álbum).

No Fazendo Minha História, são avaliados temas como relação das crianças com os livros, o álbum, os colaboradores, as equipes e os educadores.

São aplicadas questões para os educadores nos seguintes temas:

  • colaboradores e registro das histórias –as crianças participam com interesse dos encontros?, os colaboradores respeitam os dias e horários?, as crianças criam vínculos com eles?, os colaboradores se despedem quando vão embora do abrigo?, as crianças contam fatos importantes da sua história?, observa-se alguma mudança nas crianças depois do início do trabalho?, percebe alguma mudança na atuação dos educadores?;
  • potenciais afetivos e relacionais –as crianças falam sobre seus familiares?, têm clareza da formação e história de suas famílias?, gostam de se ver nas fotografias?, cuidam dos álbuns?, mostram com orgulho o álbum para outras pessoas?, têm o desejo de levar o álbum quando vão embora do abrigo?;
  • livros e leitura –o abrigo possui livros de literatura infantil e juvenil? as crianças leem e/ou manuseiam os livros no cotidiano?;
  • trabalhadores dos abrigos –utilizam a máquina fotográfica do projeto para registrar momentos importantes da vida das crianças?, procuram os colaboradores para conversar sobre as crianças?, o projeto contribui de alguma maneira para seu trabalho?, consideram o registro da história da criança no álbum um trabalho importante?, o abrigo teve um ganho depois da entrada do FMH?.

Também são feitos estudos de caso, comparando as respostas de colaboradores, educadores e equipe técnica. É importante que o resultado dessas avaliações seja traduzido em ações concretas para aprimoramento contínuo do método. Falta também mensurar o impacto do instituto como um todo, de forma sistematizada, bem como acompanhar os efeitos de seu trabalho na vida dos beneficiários no longo prazo, após seu desligamento do abrigo, a fim de comprovar a influência transformadora de seu método.

O Fazendo História teve início em 2001 (informalmente) na capital paulista, onde ficou centrado por quase cinco anos, e posteriormente expandiu sua atuação para 105 instituições de acolhimento em cidades de seis Estados brasileiros (CE, MA, PB, PR, RJ e SP) e no Distrito Federal. Trabalha nas cidades de Apucarana (PR), Brasília (DF), Campinas (SP), Fortaleza (CE), Guarulhos (SP), João Pessoa (PB), Juquitiba (SP), Mococa (SP), São Paulo, Valinhos (SP) e Vinhedo (SP), entre outras.

Em Guarulhos, na Grande São Paulo, o instituto venceu licitação para trabalhar na produção de diagnóstico das três unidades de acolhimento do município.

Dentro do programa Perspectivas, acontecem oficinas temáticas, como estratégia que busca aprofundar o saber técnico a partir da reunião de profissionais de diferentes instituições para trocar experiências sobre temas de seu trabalho cotidiano. São de cinco a seis oficinas por ano com profissionais de diferentes municípios e Estados, tais como Jacareí (SP), Leme (SP), Mairiporã (SP), Manaus (AM), Poços de Caldas (MG), Presidente Prudente (SP) e Santa Cruz das Palmeiras (SP).

Seu primeiro desdobramento fora do país se deu em um abrigo em San José (Costa Rica), com 15 crianças atendidas pelo método brasileiro, chamado localmente de “Construyendo Mi Historia”. Neste ano, 40 voluntários se dividirão em dois abrigos.

O método criado pela empreendedora social nos quatro programas é altamente replicável, como se vê pela rápida expansão dos últimos dois anos, atingindo várias cidades do Brasil. As experiências estão sistematizadas em diversas publicações, uma deles em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, e estão disponíveis para download gratuito no site. Atualmente, outra obra está em fase de conclusão. O instituto também lançou uma série de livros de literatura infanto-juvenil, com o tema acolhimento como elemento central.

Entre as publicações, destacam-se:

  • Coleção “Abrigos em Movimento”, composta de cinco títulos (“História de Vida: Identidade e Proteção”, “Abrigos em Movimento”, “Imaginar para Encontrar a Realidade”, “Redes de Proteção Social” e “Cada Caso É um Caso”;
  • “Entre o Singular e o Coletivo: o Acolhimento de Bebês em Abrigos”;
  • “Fazendo Minha História: Guia de Ação para Abrigos e Colaboradores”;
  • “Guia de Ação para o Trabalho em Grupos”;
  • “Psicoterapia para Crianças e Adolescentes Abrigados: Construindo uma Forma de Atuação”.

A replicação acontece de três formas:

  • organizações que atuam a partir da transferência de metodologia e acompanhadas a distância;
  • abrigos que contam com supervisão direta  do instituto;
  • locais de acolhimento que replicam o método de forma autônoma.

A natureza do trabalho do Fazendo História o leva a prospectar e a investir em parcerias com o poder público, notadamente na esfera municipal. Com isso, o instituto foi contratado para realizar formações para os abrigos do município de São Paulo. Como estratégia de atuação, as ações têm sido cada vez mais articuladas com os poderes Judiciário e Executivo de cada município novo em que inicia o trabalho, como ocorre em Fortaleza e em João Pessoa.

Também tem parceria com o Ministério da Cultura, por meio da Lei Rouanet e dos Pontinhos de Cultura, e com o Fumcad e o CMDCA (Fundo e Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, respectivamente) de São Paulo.

Outra vertente importante é o ativismo na área de acolhimento. O instituto trabalhava em estreita parceria técnica com a Secretaria de Direitos Humanos quando o órgão foi protagonista do movimento de aprovação da lei 12.010/2009, que detalha os direitos da criança e do adolescente. Muitas das reformas no ECA têm a ver com a maneira como lidava e agora lida com as histórias de vida. Por exemplo, os adolescentes agora devem consentir a adoção e todos têm direito a pedir para conhecer seus processos, conforme há tempos defendia a empreendedora social.

O documento mais importante para dar parâmetros sobre as instituições de acolhimento, chamado “Orientações Técnicas para Instituições de Acolhimento”, do Ministério do Desenvolvimento Social e do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), cita e indica a ONG como “caminho para o trabalho com as histórias de cada criança e adolescente”.

O eixo central de todas as estratégias de atuação do instituto são as histórias de vida das crianças e adolescentes. O método, desenvolvido com embasamento da psicologia e da psicanálise, visa desvendar a história dos acolhidos. Chegar ao passado, explica a empreendedora social, é uma escolha deles –alguns não chegam  nem querem isso. O ponto principal é ter alguém interessado na história, com afetividade e foco no sujeito do presente.

Para ajudar na condução desse desvelar da identidade, a organização usa livros como um canal de obtenção de histórias –eles exemplificam, contrastam, significam e mexem com os sentimentos mais variados da criança e do adolescente. Foi criada uma lista de 250 livros-referência, doados para serem utilizados em todos os abrigos.

Entre os programas, é inegável que o carro-chefe seja o Fazendo Minha História, projeto que tornou o instituto conhecido e que trabalha com mediação de leitura e a construção do livro-álbum da história de vida de cada um. Trata-se de um processo de cerca de um ano onde cada um pode olhar para a própria história, valorizar o que viveu de importante, as pessoas de referência e, acima de tudo, registrar sonhos e planos, iniciando um novo projeto de vida a partir de sua história.

Contudo, a empreendedora social reconhece que o programa mais estratégico dentro de sua missão é o Perspectivas, que trabalha com formação de educadores e gestores. A ação ocorre a partir de discussões de casos individuais, que ensinam como acolher melhor e ressaltam parâmetros de como receber uma criança, fazer despedidas, brincar etc. “Ele possibilita maior sustentabilidade das transformações, já que nosso maior trabalho é garantir a implementação da lei, no final do processo.”

Voluntários

Parte essencial da estrutura do Fazendo História, os 404 voluntários assumem um “papel que deveria ser dos educadores, em uma situação ideal”. Normalmente são mulheres com formação técnica (em psicologia e/ou psicanálise) que se dedicam 1h em um dia por semana no abrigo.

A seleção se dá por meio de inscrição e participação em dois encontros. Em geral, diz a candidata, só termina esse processo quem de fato continuará o trabalho. “Eles próprios notam que o que fazemos é sério e, quando não estão no mesmo ritmo, desistem antes de chegar aos abrigos.”

Os voluntários são formados em etapas: há dois primeiros encontros, de três horas cada, seguidos da visita ao abrigo e um terceiro encontro de três horas. A formação é continuada –são marcadas reuniões a cada 45 dias, em geral na sede do instituto.

As atividades do instituto acontecem por meio de quatro programas transversais e projetos esporádicos.

Fazendo Minha História: o objetivo desse programa é resgatar a história das crianças que vivem em instituições de acolhimento, propiciando meios de expressão para que possam entrar em contato com suas necessidades, seus medos e seus desejos.

O trabalho é realizado por colaboradores, que podem ser educadores das instituições, voluntários ou técnicos do instituto. Eles se encontram semanalmente com as crianças para contar e ouvir histórias, além de desenvolver atividades que incentivem a criança ou o adolescente a conhecer a própria história.

Conhecendo sua história o jovem tem maiores chances de adotar um posicionamento ativo. O produto final desse programa é o livro-álbum “Fazendo Minha História”, elaborado e confeccionado pela própria criança, contendo desenhos, relatos e fotos que registram sua trajetória. Esse livro é individual e pertence à criança, acompanhando-a em possíveis encaminhamentos (reinserção na família, adoção ou transferência para outra instituição), a fim de que cada história revisitada não se perca.

Com Tato: crianças e adolescentes acolhidos muitas vezes foram submetidos a violência (física, emocional, sexual), negligência e/ou abandono. Essas vivências podem acarretar baixa autoestima, alterações de sono e apetite, doenças psicossomáticas, dificuldades de aprendizagem, falta de confiança em si, depressão, uso de drogas e, principalmente, dificuldades de construir novos vínculos afetivos, fundamentais para a constituição de um sujeito autônomo e capaz de se inserir na sociedade. Muitas vezes, esses jovens perdem a possibilidade de sonhar e de construir um futuro que rompa com esse padrão de violência.

O programa Com Tatotem como objetivo oferecer atendimento psicológico individualizado, fornecendo às crianças e aos adolescentes um novo modelo de relacionamento, construído a partir de um vínculo seguro e estável, que os auxilia a lidar com sua história e a construir um projeto de vida. Os psicoterapeutas são selecionados e capacitados constantemente por meio de supervisões semanais e de encontros semestrais com toda a equipe. Os atendimentos são realizados em consultórios particulares e todos os profissionais envolvidos são voluntários.

Perspectivas: o atendimento de crianças e de adolescentes acolhidos exige um preparo técnico e pessoal específico da equipe de profissionais dos abrigos. Lidar cotidianamente com as histórias de abandono e violência vividas por esses jovens é um trabalho difícil, que requer acompanhamento e aprimoramento constante. O programa Perspectivas tem como objetivo criar um espaço de reflexão sobre a prática exercida nas instituições de acolhimento. Funciona em módulos, cujo planejamento é construído a partir de um diagnóstico institucional, avaliado e discutido com coordenação de cada instituição. As possibilidades de intervenção com os educadores seguem alguns caminhos:

  • grupos de discussão sobre as crianças, suas famílias, a escola e a comunidade;
  • debates sobre projetos sociais e voluntariado;
  • supervisão de projetos técnicos com coordenadores das instituições de acolhimento;
  • supervisão institucional;
  • oficinas temáticas.

Palavra de Bebê: atende crianças com idade entre 0 e 24 meses que estejam em situação de acolhimento. Seu objetivo é estimular a construção de vínculos afetivos significativos entre os bebês e os adultos que deles se ocupam –mães e/ou educadores. Utiliza-se de diversas estratégias de intervenção: oficinas de música, construção de brinquedos de sucata, mediação de leitura e criação de um álbum de registro da história de vida da criança, elaborado conjuntamente com educadores das instituições e voluntários.

A intervenção institucional também está entre os recursos centrais do Palavra de Bebê. Realizam-se encontros de acompanhamento e discussão com educadores e equipes técnicas das instituições de acolhimento, com o objetivo de aprofundar conceitualmente os procedimentos implementados pelo programa, a fim de que se tornem ganhos técnicos para a instituição após o término da intervenção.

Entre os projetos esporádicos, destacam-se:

Livros infantis: acreditando no potencial da literatura como elemento transformador, durante o ano de 2010 a equipe do Fazendo História trabalhou na produção de quatro livros infantojuvenis, com temas relacionados às vivências das crianças e adolescentes que moram nos abrigos.

Acolhimento em rede: o projeto nasceu de um desejo do instituto de ampliar a comunicação entre os profissionais atuantes no campo da assistência e de promover o fortalecimento da identidade dos mesmos. Foi criado um grupo de discussão pela internet por meio do qual trocam experiências e compartilham angústias, alegrias, decepções e toda sorte de sentimentos ligados ao dia a dia de seu trabalho.

Trata-se da garantia da preservação de sua identidade pessoal e familiar dentro de um ambiente institucional.

“Moro aqui há um ano mais ou menos, com meus irmãos.  A tia Dádiva foi quem avisou que a gente tinha que sair de casa, pois ela estava em risco... Eu morava com a minha mãe e aqui tenho muita saudade dela.

A minha ‘Fazendo História’ [a voluntária do instituto] vem toda semana e me ajuda a escrever no álbum. Acho que o álbum é importante porque vou lembrar do tempo em que passei no abrigo, não tem só coisa triste.

Escrevo um monte de coisas. Aqui [mostra uma página] fala um pouco de mim: o que eu menos gosto é das minhas unhas; minha principal qualidade é ser feliz; meu principal defeito é ser bagunceira; minha melhor amiga é a Andressa, que morava lá perto da minha casa.

Quer ver mais? Esses são meus desejos para 2011: quero um computador, um celular, bombons, um namorado, um vestido prateado... [ri enquanto mostra as imagens recortadas de revistas e coladas no álbum].

Nesta página, anotei meus pensamentos. Um pensamento secreto: morar com a minha mãe. Um pensamento bobo: fugir, mas não é bom fugir. Eu já pensei em fugir, mas desisti... Já tem muito tempo que estou aqui, daí eu cansei, pensei em fugir e ir embora.

[Vira a página e dá uma risada depois que a repórter lê o título: “O dia em que esta senhorita pensou em fugir”]. Tudo o que acontece aqui eu conto pra ela [para a voluntária que a ajuda a fazer os registros semanais no álbum].

Aqui [nesta página] é o dia da visita, quando eu fui na casa da minha mãe. Isso aqui quem escreveu foi minha ‘Fazendo História’. Nesse dia encontrei a minha irmã mais velha, a Tainá. Ela está muito magra, sabe, ela continua usando drogas e não está frequentando a escola. A minha mãe parou de beber, meu tio disse.

[Vira a página.] Aqui foi o dia do meu aniversário, olha, leia:

‘Eliana foi para a escola. A Mayra deu um brinquinho de aniversário. A classe ‘toda cantou um parabéns bem desanimado, mas, na hora do ‘com quem será’, todo mundo se empolgou. O tio Emerson ligou para dar parabéns no abrigo e teve bolo de prestígio. O aniversário foi bom, mas ela sentiu saudades de casa. O primeiro pedaço do bolo ia ser para a mãe, mas ela não estava aqui. O segundo, para o pai, mas ele também não estava aqui. O terceiro, foi para a irmã, que também não veio. Mas, no final do dia, eu [a voluntária, que escreveu este texto] vim, e nós tiramos muitas fotos.’”

Erica (nome fictício), 14, que vive na Casa Semeia (abrigo), em São Paulo
 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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