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Wagner Gomes

Quem é ele?

Francisco Wagner Gomes de Souza, 28, economista

Organização: Adel (Agência de Desenvolvimento Econômico Local) www.adel.org.br

Economista, criado no sertão do Ceará, fundou a Adel (Agência de Desenvolvimento Econômico Local), organização que combate o êxodo rural por meio do desenvolvimento econômico e social em comunidades rurais do Nordeste. Para atingir suas metas, alia assessoria técnica a agricultores, capacitação de jovens para o empreendedorismo social e formatação de redes territoriais, que alavancam políticas públicas e o desenvolvimento econômico local do semiárido. Com pouco mais de dois anos, beneficiou 585 famílias e 90 jovens. Também já consolidou 25 redes sociais no interior cearense. Iniciou suas atividades nos municípios de Apuiarés, Pentecoste, Tejuçuoca e General Sampaio (CE), depois se estendeu para o baixo Acaraú e o norte do Estado.

Êxodos urbanos

Economista inverte a lógica da emigração rural para superar o ciclo da pobreza no semiárido cearense

PAULA LAGO
ENVIADA ESPECIAL A PENTECOSTE (CE)

Em 2003, Wagner Gomes, 28, filho de agricultores de Apuiarés, no semiárido do Ceará, chegou longe, ao conseguir uma vaga no curso de economia da universidade federal do Estado.

Seus próximos passos mais óbvios seriam ter conseguido emprego em Fortaleza e ter ficado por lá. Queria, no entanto, ir ainda mais distante: inverteu a lógica do êxodo e voltou à comunidade de origem para ajudar a melhorar a vida daquelas famílias.

O fato de ter frequentado o Prece, cursinho pré-vestibular comunitário e cooperativo da região de Apuiarés, colaborou com seus planos.

Nas aulas, os alunos aprendiam uns com os outros não só matérias de vestibular mas também os benefícios do cooperativismo e da liderança comunitária.

O empreendedor inquieto, que mudava de escola com gosto quando criança "para aumentar o círculo de amigos", hoje atua com esses colegas do Prece e da UFC.

Em 2007, Wagner formou com filhos de agricultores a Adel (Agência de Desenvolvimento Econômico Local).

Havia estudantes de zootecnia, agronomia, engenharia da pesca e marketing, entre outros. "Parti para a Adel porque não via como haver desenvolvimento local sem gerar renda e trazer os alunos de Fortaleza", diz ele.

Adriano Souza, 30, formado em zootecnia e diretor técnico da agência, afirma que, por conhecerem os efeitos da seca, "sentiam que aquilo tinha solução, só que ela não chegava". A Adel surgiu, então, como um caminho para "superar o ciclo de pobreza".

A visão gerencial do vencedor do Prêmio Empreendedor Social de Futuro 2010 ajudou a solidificar a agência e a atrair apoios importantes, como o do Banco do Nordeste, que financia projetos acompanhados pela Adel.

Jeânia Gomes, agente de desenvolvimento do banco, não contém a emoção ao falar da agência. "Aqui é uma área de muito sofrimento. Eles [Adel] têm compromisso com as pessoas do campo. Wagner tem visão empreendedora, não se acomoda, e isso é muito importante."

IMPACTO NÍTIDO

A Adel desenvolve seu trabalho a partir dos problemas das comunidades em criações de bovinos, caprinos, plantações ou apicultura.

Na Associação Comunitária de Carrapato, por exemplo, o agricultor Francisco Vaz de Oliveira, 45, ex-presidente, comenta que a agência trouxe mudanças nítidas.

"Eles nos ajudaram a implantar a silagem [conservação de forragem para alimentar animais na seca] e nos deram apoio para comprarmos um trator. Já tínhamos recebido ajuda da Embrapa, mas nunca teve continuidade. Agora os técnicos nos visitam a cada 15 dias."

Voltar para o interior virou uma opção para Neuliana de Souza Amorim, 29, que mora em Fortaleza e é secretária da Associação Comunitária de Apicultores de Três Lagoas.

"Com o trabalho da Adel, adquirimos conhecimento em fóruns e palestras. Não é perda de tempo."

"Focado em resultados", como o define Manoel Andrade, 51, idealizador do Prece, Wagner planeja agora o próximo passo de uma jornada que o levará, literalmente, a terras mais longínquas: pretende replicar a metodologia em outros territórios.

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CONHEÇA MAIS SOBRE A ADEL

Desenvolvimento econômico local no semiárido nordestino não é novidade no cenário brasileiro. Mas é altamente inovador quando feito por jovens graduados, nascidos na roça, que atuam na contramão do êxodo rural nordestino.

A Adel, formada por 23 jovens que estudaram na capital (Fortaleza/CE) e que voltaram para suas comunidades em prol do desenvolvimento sustentável, inova quando:

  • mescla conhecimentos científicos e saberes populares de comunidades rurais para atingir o desenvolvimento do semiárido;
  • percebe que há recursos financeiros do governo subaproveitados por comunidades carentes por mera falta de esclarecimento;
  • oferece sua mão de obra especializada e apoio aos agricultores, já fortalecidos por ela, a um preço justo.

Com orçamento de R$ 285 mil para este ano, a Adel presta consultoria a agricultores de seis associações. Parte dessa verba (31%) foi captada no BNB (Banco do Nordeste do Brasil), seu principal parceiro. Também em 2010, só com o BNB, a Adel conseguiu trazer cerca de R$ 400 mil reais para os cofres dessas seis associações, que, em contrapartida, fecharam parceria com a Adel para ter serviços técnicos especializados a seus agricultores. Ou seja, fomentando esses grupos ela também alimenta e gira o capital da organização.

O candidato descobriu esse viés quando notou em seus estudos que as organizações sem fins lucrativos com menos três anos (prazo mínimo para adquirir subsídios do governo) e as que não atuam em pesquisa ficam sem recursos públicos para tocar suas atividades.

Estudando as extensas cartilhas dos bancos, a Adel verificou que o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) é uma excelente fonte de renda para agricultores, desde que sejam bem assessorados tecnicamente. Essa exigência parte do próprio BNB, por exemplo, que investiga o perfil do agricultor, o qual se compromete a contratar mão de obra especializada. É aí que entra a Adel. Por meio desse instrumento a organização construiu sua própria sustentabilidade.

Com excelente expertise para dialogar com as comunidades rurais, o Banco do Nordeste passou a liberar mais financiamentos às associações, que, por consequência, geraram mais trabalho para a Adel. A fama de bons assessores no mercado e o desenvolvimento socioeconômico de muitas comunidades também atraíram outros parceiros.

Por ser uma organização que trabalha com consultorias, os principais custos são, atualmente, com recursos humanos (60%). O restante é derivado para transporte e alimentação (15%), divulgação e propaganda (15%) e despesas com manutenção (10%). A equipe é qualificada, altamente engajada e bem assessorada em sua atual fase de crescimento.

Principais parceiros: BNB (Banco do Nordeste do Brasil), Brazil Foundation, Bravo Youth Foundation, Coampe, Embrapa, Federação de Associação de Apuiarés, Fundação Konrad Adenaeur, Fundação Rivers of the World, Instituto Coração de Estudante, Instituto SeSeMar, Instituto Souza Cruz (responsável por 54% do orçamento da Adel), Ipi Roswell, prefeituras municipais de Apuiarés, Tejuçuoca e Pentecoste, TejuFlora, União das Associações do Vale do Rio Canindé e Universidade Federal do Ceará.

A Adel já beneficiou diretamente 585 agricultores rurais, além de já ter capacitado 90 jovens para atuar no empreendedorismo social. Também já formatou 25 redes territoriais para alavancar o desenvolvimento sistêmico do semiárido.

Para controle do impacto social, os técnicos da Adel visitam as propriedades atendidas mensalmente para a coleta de dados. São colhidas informações prioritariamente ligadas à mortalidade dos animais, que têm menos de um ano, e à colheita.

Já nas reuniões entre as associações, são levantados dados essenciais, como frequência e participação dos produtores nos encontros, uso compartilhado de insumos e infraestrutura, trocas entre produtores com outras redes sociais e formação de novas associações e cooperativas, além de acompanhamento de políticas públicas locais.

Por estar em andamento, ainda não há números precisos que permitam uma avaliação qualitativa do impacto social provocado pela Adel. Mas a organização afirma que a produção dos agricultores aumentou (assim como a renda). Ela também já sabe que o índice de mortalidade do rebanho caiu sensivelmente.

O início das atividades da Adel aconteceu em 2008, na região de Apuiarés e Pentecoste (CE). No mesmo ano, conseguiu, em outras regiões do Estado:

  • iniciar o projeto Apicultura Integrada e Sustentável em Apuiarés;
  • firmar parceria com a Fundação Konrad Adenauer;
  • formatar o projeto Agentes Multiplicadores em Agroecologia do Médio Curu;
  • expandir as ações da organização para o município de Tejuçuoca;
  • ser premiado no concurso nacional da Brazil Foundation;
  • implantar o projeto Célula Social Produtiva em Canaístula.

Em 2009:

  • implantou o projeto Caprinovinocultura, que cuida da estruturação da cadeia produtiva nos municípios de Tejuçuoca e Pentecoste;
  • novamente foi premiada, com outro edital, pela Brazil Foundation;
  • iniciou o projeto Feiras da Agricultura Familiar e Agroecológica em Pentecoste, Apuiarés e Tejuçuoca;
  • iniciou o projeto Gestão e Organização Comunitária das Organizações do Vale do Rio Canindé;
  • criou o programa Jovens Empreendedores Sociais;
  • firmou parceria com a Bravo Youth Foundation.

Em 2010:

  • expandiu as atividades do Projeto Apicultura Integrada e Sustentável para Pentecoste;
  • ampliou as ações da Adel para os municípios de Itarema, Baixo Acaraú e General Sampaio.

A tecnologia social da Adel está na fase final do seu primeiro ciclo de aplicação. Um estudo está sendo iniciado para analisar e sistematizar suas etapas e refletir sobre seus efeitos, impactos e possibilidades de reaplicação.

Os principais indicadores utilizados hoje para avaliação dos resultados são:

  • produtividade;
  • rentabilidade;
  • quantidade e qualidade da participação de pequenos produtores rurais nos processos decisórios em nível local;
  • número de jovens envolvidos na governança local por intermédio das associações comunitárias;
  • quantidade e qualidade da participação dos pequenos produtores rurais nos fóruns e conselhos de gestão territorial;
  • incidência dos espaços de governança local (da sociedade civil) em políticas públicas e de investimento privado, com foco na agricultura familiar do território.

A tecnologia social da Adel é resultado da criação e/ou aperfeiçoamento de uma infraestrutura para pequenos agricultores, da formação de jovens empreendedores sociais e da formatação de redes sociais. Juntos, esses três programas buscam a implementação de políticas públicas, que podem fazer o desenvolvimento sistêmico do semiárido nordestino. Mas, para alcançar esse objetivo, a organização segue a filosofia de ser persistente e nunca desistir, independentemente de dificuldade.

A Adel acredita que o desenvolvimento local é resultante de fatores técnicos e sociais. Sem a formação do capital social, não há estruturas aprimoradas, que garantam a evolução e a sustentabilidade das comunidades. Por isso abrem suas palestras com a seguinte frase, do escritor norte-americano Stephen Covey: "Tocar a mente humana é pisar em solo sagrado".

Com foco na atuação em agricultura familiar, a organização planeja e executa assessoria especializada para pequenos agricultores, com posse ou não da terra, para fazer o desenvolvimento do sertão. Para isso, fortaleceu cientificamente os saberes locais de seu corpo administrativo e técnico a fim de adquirir melhoria na produtividade e aumento na renda familiar dos sertanejos.

Outro fator relevante é a permanente "vigília" sobre o lema de que, sem cooperação entre os atores locais, não há expansão da atividade econômica.

A metodologia aplicada pela organização segue os mesmos princípios do Prece, ONG que despertou os gestores da Adel para busca do desenvolvimento local. Ambas seguem os pressupostos descritos na Pedagogia da Autonomia, de Paulo Freire.

  • Programa Josué de Castro: está estruturado em núcleos relacionados às cadeias produtivas. A Adel sempre atende a comunidade a partir de uma parceria com uma instância organizativa local como associações de pequenos agricultores. Os técnicos fazem diagnóstico da estrutura e do contexto econômico da comunidade para identificar as vocações locais, valorizando sempre os saberes tradicionais. Com base nessa pré-identificação, a equipe determina a prioridade (o produto-chave para estruturação produtiva do território). Os núcleos do programa estão divididos em: pesquisa e diagnóstico, caprinovinocultura, apicultura, agroecologia e apoio à comercialização.
  • Empreendedorismo Juvenil: é uma estratégia da Adel para rejuvenescer as associações e demais instâncias organizativas, contribuindo para a sustentabilidade do processo de fortalecimento do tecido social. Lida com a capacitação de jovens para que eles adquiram o perfil de empreendedores sociais.
  • Formação de Redes Territoriais: é a assessoria da Adel para outras organizações de diversas instâncias comunitárias pelo Ceará. Por meio desse projeto, a organização mobiliza pequenos produtores para fortalecer os processos produtivos coletivos e a comercialização em bloco (maiores facilidades para acesso a mercados, melhores condições de preço etc.). O núcleo também é responsável pela realização de feiras e congressos, entre outros encontros.

"Somos mais ou menos 200 famílias, vimos o interesse da Adel em ajudar a melhorar a comunidade e as criações e passamos a acreditar que ia dar certo. Com pouco tempo, conseguimos muitos projetos, vimos resultados. Foi dada assessoria técnica aos produtores.

Conseguimos primeiro construir um aprisco [abrigo para os animais] comunitário, depois, um local para armazenar os silos [alimento para a época da seca].

Já conseguimos outro projeto da Conab [Companhia Nacional de Abastecimento], eles compram os produtos [a comunidade tem criação de caprinos e agricultura] da associação.

Cada produtor se inscreve e repassa os produtos para entidades da própria comunidade. O Wagner tem interesse em nos ajudar, eles, da Adel, têm conhecimento e nos conhecem também, isso facilita.

Deixamos de criar gado porque os terrenos eram pequenos e passamos a criar ovinos e caprinos: o trabalho é mais fácil e, se eles morrem, o prejuízo é menor que o que teríamos com o gado.

Após a chegada da Adel, há três anos, nós nos organizamos e já conseguimos água encanada, luz elétrica, apoio do prefeito.

As pessoas participam [da associação], mas não muito. Elas se acomodaram um pouco, acham que já temos muita coisa, mas têm que ver que podemos conseguir muito mais."

Angelina Luz Lopes, 31, secretária da Associação Comunitária dos Agricultores de Canafístula (CE)

 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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