Vazio na região central, bicicletário lota na periferia de São Paulo
Já passava das 20h, mas ainda se ouvia o barulho de correntes de bicicletas girando no bicicletário do Jardim Helena-Vila Mara, no extremo leste de São Paulo, em plena terça-feira. As magrelas eram retiradas por dezenas de ciclistas que chegavam do trabalho a todo instante.
No dia seguinte, no mesmo horário, o barulho no bicicletário do Brás (centro) era de tiros e gritos vindos do tablet do segurança do local, que assistia a um filme de ação para não cair no sono.
A planilha dele dizia tudo: só duas pessoas tinham usado o serviço naquele dia.
Davi Ribeiro/Ernesto Rodrigues/Folhapress | ||
À esquerda, bicicletário do Brás, na região central, que costuma ficar sempre vazio ao longo do dia; ao lado, bicicletário do Jardim Helena, na zona leste, que recebe quase 300 bicicletas diariamente |
Dados obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação revelam que os bicicletários ligados a estações de metrô e trens e localizados na periferia e em cidades da região metropolitana estão lotados. Já os do centro da capital vivem às moscas.
A média diária de bikes guardadas de graça em novembro de 2014 (dado mais recente disponível) no bicicletário do Brás, gerenciado pelo Metrô, foi de só 0,5. O local tem 20 vagas para bikes.
A situação não é tão diferente no resto do centro expandido: na Liberdade, 2,7 por dia; na Vila Madalena, 4,7.
Por outro lado, na estação Jardim Helena foram guardadas, em média, 293 bicicletas por dia. O serviço é operado pela CPTM e tem 256 vagas.
Em outras áreas mais periféricas os bicicletários também são bastante utilizados: no do Itaim Paulista (zona leste), 291 por dia; em Osasco (Grande São Paulo), 165.
Editoria de arte/ Folhatress | ||
Doutora pela USP em mobilidade não motorizada, Meli Malatesta diz que a intenção dos bicicletários é integrar as ciclovias às estações, mas os moradores do centro ainda não se adaptaram a usar a bicicleta com essa intenção.
"Na periferia, o trabalhador usa bicicleta para economizar. No centro, há muitos cicloativistas, mas a maior parte [dos moradores] costuma pedalar só no fim de semana por lazer."
A gestão Fernando Haddad (PT) implantou 258 km de ciclovias em dois anos. Boa parte fica na região central, onde há ociosidade, mas a prefeitura diz que uma "nova cultura" está sendo absorvida.
Os bicicletários anexos às estações de trem e metrô somam quase 7.000 vagas e funcionam todos os dias.
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