É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
A culpa de Israel
SÃO PAULO - Existem guerras em que um lado tem a razão moral a seu lado? Não excluo essa possibilidade, mas parece razoável afirmar que essas são situações raras. A maioria dos conflitos, seja entre pessoas, seja entre nações, é resultado de uma escalada de agressões em que cada parte enxerga bem os seus motivos para estar indignada e ignora as razões do adversário.
Para quem olha de fora, é fácil abraçar as narrativas pré-fabricadas que ambos os lados apresentam. Mas, se queremos evitar cair na mesma armadilha em que se enredaram os beligerantes, é preciso despi-las de seus equívocos e exageros.
Para começar, Israel não comete genocídio contra os palestinos. Os elementos que o compõem indicam que ele só deveria ser aplicado a tentativas deliberadas de eliminar grupos étnicos. Israel não faz isso com os palestinos. Até teria os meios materiais, mas a empreitada seria politicamente inviável.
O fato de o Estado hebreu não estar buscando a extinção dos palestinos, porém, não implica que esteja agindo de forma moralmente irrepreensível, como advogam alguns.
A cada intervenção militar em Gaza, os israelenses ficam mais "trigger-happy", isto é, mais liberais nos bombardeios e menos cuidadosos na contenção das baixas civis. Justificam para si mesmos a violência invocando a intransigência do Hamas, que não abre mão do objetivo de destruir Israel, e no fato de o grupo extremista instalar sua infraestrutura militar no meio da população civil.
Essa é uma posição de certo modo confortável, já que permite a Israel manter um "statu quo" ao qual já se habituou sem encarar suas responsabilidades como único Estado democrático da região. A posição verdadeiramente moral aqui exigiria que Israel tivesse feito muito mais do que fez para legitimar uma liderança palestina moderada com a qual seja possível celebrar a paz.
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