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10/05/2012 - 07h07

HÁ 20 ANOS: Exportação do "ouro verde" da Amazônia mobiliza ecologistas e índios

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JEFFERSON CORREDOR
DO BANCO DE DADOS

Folha - 10.mai.1992 - O mogno da Amazônia é tema de nova polêmica entre ecologistas e os poderes público e econômico. Mesmo ameaçada de extinção, a espécie é cortada livremente nas florestas brasileiras. Ambientalistas cobram ação do governo, dizendo que o assédio das madeireiras já é a mais grave ameaça à mata virgem e às áreas indígenas.

O que explica a "fome" das madeireiras é a chance de lucro entre o preço pago pelo corte da árvore e o valor recebido na exportação da madeira.

Os índios xicrins (grupo caiapó), da reserva Cateté, no sul do Pará, recebem cerca de US$ 10 por árvore cortada. O preço médio do metro cúbico de mogno, depois de processado e levado ao porto de Belém (PA), é de US$ 544, o que faz o produto ser chamado de "ouro verde" na Europa e nos EUA --a extração rendeu US$ 63 milhões em 1991.

Outro fator preocupante envolve a relação entre os índios e as madeireiras. De um lado, os índios cobram indenização de três grandes madeireiras do Pará pelo que desmataram em suas terras em 1990 e 1991.

Já as empresas se defendem. O presidente da Associação dos Exportadores de Madeira do Pará, Danilo Rammor, diz que a extração de madeira em áreas indígenas deveria ser permitida, pois "os índios são os donos da terra e precisam de dinheiro para viver".

Já Rubens Bannach, dono da madeireira que leva o nome de sua família, afirmou saber que o contrato com os indígenas é ilegal, mas fechou o acordo atendendo a apelos de líderes xicrins. "Eles vivem em miséria absoluta e nos procuraram para vender madeira. É difícil dizer 'não' com 20 índios na sua sala", disse.

João Ramid - 10.abr.1992/Folhapress
Trabalhador empilha tábuas feitas de mogno no porto de Belém (PA), de onde a madeira será enviada para o exterior
Trabalhador empilha tábuas feitas de mogno no porto de Belém (PA), de onde a madeira seguirá para o exterior

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BRASIL

O presidente Fernando Collor de Mello assinou, anteontem, decreto que cria a Zona Franca de Macapá e Santana (AP), que terá uma área total de 200 km2.

O governador do Amapá, Aníbal Barcelos, disse que o projeto "é um passo decisivo para o desenvolvimento do Estado". Ele afirmou que sua equipe de governo está estudando a redução da alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para atrair investimentos à região.

A implantação da Zona Franca de Macapá, idealizada pelo senador e ex-presidente José Sarney (PMDB), ficará a cargo da Suframa (Superintendência de Desenvolvimento da Zona Franca de Manaus).

Sarney ressaltou que a implantação dessa zona franca trará benefícios também para Belém, no Pará, cidade que fica a 45 minutos de voo da capital do Amapá.

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CULTURA

Antonio Gaudério - 28.abr.1992/Folhapress
Geraldo Vandré, em frente ao prédio onde vive no centro de SP
Geraldo Vandré, em frente ao prédio onde vive em São Paulo

Depois de dez anos sem dar entrevistas, o advogado, cantor e compositor Geraldo Vandré revela à Folha que nunca foi preso nem torturado durante a ditadura. Ele ainda afirmou que não foi obrigado a se exilar em 1968.

Famoso pela canção "Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores", tida como um dos hinos contra o governo militar, Vandré declarou que nunca foi "de esquerda ou direita ou de partido político".

Leia os principais trechos da entrevista:

Folha: Houve um processo de delação de artistas por artistas na época da caça às bruxas, no final de 1968?
Vandré: Não vivi tal problema ou tal época. Sou caçador, mas nunca cacei bruxas e comunicação. A meu ver, tem um significado completamente distinto do significado adotado no questionário.

Folha: Você acompanhou a prisão e o exílio de Caetano e Gil? Teve contato com eles?
Vandré: Não e não.

Folha: O que representou a música "Caminhando" em sua vida? O que você acha da opinião de Nelson Rodrigues, que a chamou de anti-Marselhesa [hino nacional francês que inspirou movimentos sociais na Europa no século 18], de algo sonífero?
Vandré: Música é completamente diferente de canção; não depende de palavras. Dizendo da canção, ela é a vida de seu cantor e, como expressão lítero-musical de uma cultura, parcela indeclinável de sua existência e de sua subsistência. Em arte, que é sinônimo da verdadeira comunicação, não existe este tipo de controle; mesmo porque o público de um artista não reage. A rigor, interage. "Caminhando" é uma canção brasileira. Não é Marselhesa nem anti. Não uso soníferos nem gosto de pornografia.

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MUNDO

A polícia prendeu 525 pessoas que participaram anteontem à noite de uma passeata em São Francisco (EUA), em protesto contra a absolvição de quatro policiais que espancaram em março de 1991, em Los Angeles, o motorista negro Rodney King.

Cerca de 600 pessoas participaram da manifestação. A polícia disse que interveio com cassetetes e gás lacrimogêneo quando os manifestantes tentaram marchar por um itinerário que não estava previsto. Os manifestantes afirmam que a polícia os forçou a sair da rota preestabelecida.

Desde a absolvição dos policiais agressores, há dez dias, 58 pessoas já morreram em conflitos de rua em várias cidades dos EUA, a maioria em Los Angeles.

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ESPORTE

Os pernas de pau de plantão não precisam mais se preocupar: o novo aliado na guerra contra os goleiros é o "Disque-gol", criado por Dario José dos Santos, o Dadá Maravilha, um dos maiores artilheiros do futebol brasileiro de todos os tempos.

Com uma ligação para Sorocaba, são resolvidos problemas de grossura nos fundamentos do futebol (as famosas caneladas), como falhas na hora do chute.

"Sou cristão, sou moral. Levar embora tudo o que aprendi, todos os meus segredos, seria egoísmo", justifica o ex-jogador, hoje técnico do São Bento, time que disputa a terceira divisão do Brasileiro. "O dinheiro não me compra, faço tudo por amor. Os caras que ligam aqui estão nas trevas, eu sou a luz", disse ele.

Confira algumas dicas do craque:

Impulsão: "Os pés devem estar a dois palmos um do outro; o jogador precisa estar apoiado apenas nos dedos para dar o impulso. Assim eu conseguia saltar 85 cm, um recorde".

Cabeceio: "Quando a bola é cruzada da direita e o atacante está de frente para ela, deve-se posicionar a cabeça junto ao ombro esquerdo; e o contrário se vier da esquerda. Não se pode esquecer de impulsionar o corpo 30 cm para a frente e de ir ao encontro da bola".

Tranquilidade: "O segredo para vencer o goleiro está na mente do atacante. É preciso ter os nervos no lugar. Você tem que entrar na área como se entrasse no seu quarto e sua mulher estivesse na cama. Você não vai dar uma bicuda nela. Bola e mulher, trata-se com amor. Aí, é só tocar no contrapé".

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FRASE

"O funcionário público não deveria ter favores de nenhuma espécie. Mas a Constituição não dá margem de manobra para que a situação mude"

LUIZ SIMÕES LOPES
ex-presidente da Fundação Getúlio Vargas, cargo que ocupou por 48 anos, sobre a prática de corrupção no poder público

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Leia mais no Acervo Folha

O xeique do Kuait, Jabir al-Ahmad al-Jabir al-Sabah, trouxe ao Rio seis de suas 200 esposas. As mulheres do Planeta Fêmea, espaço dedicado a entidades feministas dentro da Eco-92, consideraram a situação absurda. Quem defendeu o monarca mencionou a "herança cultural" dos haréns do Oriente Médio. As "rainhas" de al-Ahmad têm em média 20 anos, 40 anos a menos do que o marido.

 

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